Entrevista de Miguel Portas ao programa “Conselho Superior" da Antena 1, em que o Eurodeputado eleito pelo Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu, faz o seu comentário semanal sobre a actualidade política.
JOÃO
Miguel Portas no programa "Conselho Superior"
Antena 1 - 2011/09/30
O Estado da União
A União Europeia está “prisioneira de si própria, de mãos atadas e à beira do precipício” por causa de histórias viciadas, de incompetência e de falta de coragem política e por isso o discurso de Durão Barroso esta semana sobre “o estado da União” foi verdadeiramente sobre “o estado das ilusões”, demonstrou o eurodeputado Miguel Portas na sua intervenção semanal no espaço Conselho Superior da Antena Um.
Um discurso sem novidades, explicou o deputado da Esquerda Unitária eleito pelo Bloco de Esquerda. A prometida taxa sobre as transacções financeiras é um assunto que já estava sobre a mesa e depende da unanimidade dos Estados membros e as perspectivas nunca são para existirem antes de 2018; as obrigações europeias, os eurobonds, já foram prometidos por Barroso no ano passado, voltaram a sê-lo e Miguel Portas aposta “dobrado contra singelo” de que voltarão a sê-lo para o ano, simplesmente porque a Alemanha não os quer.
Um discurso sem novidades? Não absolutamente: teve uma, a que confirma a regra. Coberto com o apoio dos líderes dos principais grupos parlamentares e ofendido com a “indiferença” a que tem sido votado pela Alemanha e a, França Durão Barroso ousou perguntar que se querem entregar a governação económica da União ao presidente do Conselho, “então para que querem a Comissão?”
Isto perguntou Durão Barroso no seu discurso ao cabo de sete anos em que, recordou Miguel Portas, “por ele passou uma crise, outra está passar e outra irá passar, a que está para vir e que decorrerá da recessão mundial” pelo que a pergunta própria de um deputado que “não esteja para ser seduzido por um discurso de sedução” é: “porque é que a gente há-de acreditar neste homem?”
Uma pergunta a que Durão Barroso não poderia responder porque “na EU quem manda de facto é a senhora Merkel, não é Durão Barroso”.
Este cenário, sublinhou Miguel Portas, demonstra que o verdadeiro Estado da União é o de “prisioneira de si própria e a aproximar-se de um precipício com as mãos atadas”.
E a situação decorre de culpa própria, em Bruxelas e na Alemanha. Em primeiro lugar, disse o eurodeputado, por causa da história inventada de que na Europa existem os “países virtuosos”, os do Norte, e os países “dos preguiçosos e incompetentes”, os do Sul; depois porque, atrás desta história a UE tardou em perceber que os casos da Grécia, Portugal e Irlanda não eram exclusivos destes países, tardou em ver que por detrás da árvore “estava a floresta, a floresta do euro”; e nessa altura, quando a questão da falta de solidariedade na União explodiu em força, “as opiniões públicas dos países ricos e virtuosos não estavam preparadas para soluções que tivessem a ver com essa mesma solidariedade porque lhes andaram a dizer que os do Sul eram uns preguiçosos”.
Por isso, lembrou Miguel Portas, assistimos a “tanta indecisão, tantas não decisões, tantas decisões erradas”
“É uma história de incompetência”, rematou.
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