Na Comuna.Net está um artigo de Victor Franco que eu tenho que destacar. Está muito bem feito, cheio de ironia, a mesma ironia que o grupo ruptura merecia por ser tão mesquinho, pequeno, tacanho, egocentrico...
O partido fortalece-se depurando-se? |
Domingo, 11 Dezembro 2011 |
Esta “máxima” serviu os tempos do stalinismo como garantia de monolitismo, perseguição e repressão de vozes dissidentes. A diferença de opinião era rapidamente apelidada de fraccionismo e a expulsão era a porta de saída mais certa, quando não era o cemitério. Quando o BE se formou, colocou a pluralidade e a democracia no seu material genético e ao fazê-lo rompeu com as tradições sectárias e fundamentalistas. Com a sua formação, o Bloco mostrou o que é um partido democrático de novo tipo: democracia de base, possibilidade de expressão de várias opiniões, direito de tendência, tratamento igual entre todas elas, horizontalização e generalização da informação das opiniões diferentes – talvez seja o único partido português onde opiniões diferentes, e até opostas, são publicadas na sua página de internet. No Bloco, para apresentar uma moção de orientação política à Convenção Nacional só são precisas 20 assinaturas em quase 10 mil aderentes, estes votam em moções diferentes para a Convenção, há plenários distritais e concelhios com representantes das várias moções defendendo as suas posições e discutindo-as com os aderentes, há até direito a plataformas regionais e locais (na última convenção houve 8 plataformas locais e 4 moções nacionais, todas elas elegeram delegados), as votações são por voto secreto fiscalizadas por comissões eleitorais com representantes de todas as moções, a atribuição de delegados ou cargos é por voto estritamente proporcional. No BE não há quotas de secretário-geral para nomeação de dirigentes, nem de jotas, nem de sindicalistas, nem de ambientalistas – no Bloco um aderente vale um voto, e todas as pessoas têm iguais direitos e deveres entre si. No Bloco não elegemos líderes, elegemos equipas que se responsabilizaram previamente por apresentar linhas de orientação livremente escolhidas e votadas. No Bloco, não temos Comissão Central de Controlo e Quadros, temos uma Comissão de Direitos onde qualquer aderente pode reclamar e ver garantidos os seus direitos caso tenham sido violados por alguém. No Bloco, a Mesa Nacional cessante não propõe a Mesa Nacional seguinte, quem quiser propõe quem quiser, a Mesa Nacional é eleita por voto secreto entre as várias listas que, associadas a um programa político, se querem apresentar à votação dos delegados. Ao sair do BE, onde, em verdade, já nada faziam há pelo menos dois anos, o grupo Ruptura acusou o BE de falta de democracia. Os exemplos anteriores são elucidativos. No BE, ao contrário do grupo Ruptura, os textos não são recolhidos no final das reuniões para que ninguém os possa divulgar, são até publicados na internet. No BE, ao contrário do grupo Ruptura, não recebemos ordens de uma qualquer internacional – só recebemos as ordens / decisões das votações dos aderentes. No BE, ao contrário do grupo Ruptura, não há aderentes “clandestinos” que só se dá por eles quando há votações e quase sempre votam por correspondência para que não se saiba quem são. No BE, ao contrário do grupo Ruptura, não há centralismo “democrático” nem a severa disciplina do grupismo de má memória, a política é um exercício democrático e dialéctico - não é uma religião. Não lamento a saída deste grupo porque ela representa a escolha própria do seu caminho e da sua prática: guerrilha interna permanente, ataques ao Bloco de fora para dentro em aliança com os sectores mais reaccionários do regime (de que a revista Sábado é porta-voz) e nos momentos mais decisivos como os eleitorais, desprezo pela participação na luta de classes e nos combates que o partido enfrentou, isolamento e sectarismo em lugar de procurar juntar forças… “O objectivo é tudo a táctica não é nada” representa-se na substituição da disputa política de massas pela proclamação ideológica dogmática e estéril e pela negação de alianças sociais que ajudem a acumular forças e facilitar avanços na consciência social de milhões de pessoas. O grupo Ruptura repete, em Portugal, os fracassos completos já ocorridos em todos os países onde a corrente trotskista-morenista existe e todos os piores exemplos do grupismo de má memória. O novo partido, esse sim, será muitíssimo forte pois estará depurado dos elementos reformistas, conciliadores e pequeno-burgueses, iluminará o caminho revolucionário das massas seguindo os ensinamentos de Moreno, fará uma corrente sindical de classe para se representar a si mesmo, aplicará o centralismo-democrático e dentro de um ano expulsará metade de 150 pois 50 já terão saído. O desprezo que o povo lhes votará será culpa dos partidos traidores, Bloco e PCP, a quem continuará a propor unidade. A razão porque o grupo Ruptura sai do Bloco apenas tem a ver com a falta de apoio dos aderentes às suas posições fundamentalistas e esquizofrénicas. O Bloco não se fortalece por o grupo Ruptura sair, apenas deixa de sofrer alucinações. Victor Franco |
Sem comentários:
Enviar um comentário