Conheci e privei, na Brasileira, no Chiado em Lisboa, com Vera Lagoa, quando eu era ainda menina e adolescente, antes de ir para Inglaterra em 1968. O meu pai "assinava o ponto" pelo menos duas vezes por dia na Brasileira, onde convivia com os seus pares e amigos, pessoas das várias artes plásticas e da restante vida artística portuguesa, como escritores, poetas, actores, jornalistas, etc..
E foi assim que Vera Lagoa se juntava na mesa dos intelectuais portugueses quando entrava na Brasileira. Às vezes eu estava lá.
O dava-se com toda a gente que convivia, mesmo pertencendo a áreas e interesses políticos bem antagónicos, como era o caso do meu pai e de Vera Lagoa, ele da esquerda e ela da direita; embora a política não fosse abordada às claras, ela pairava sempre como acontecia de forma velada no teatro, mais propriamente nas Revista à Portuguesa.
Conheci, também, pela mesma altura, outra cronista social, esta amiga do meu pai e cuja casa frequentei, Carlota Alves da Guerra, que escrevia para a Crónica Feminina e fazia crónicas para a rádio, pessoa muito respeitável e muito bem-educada, que, embora cronista social, tivesse um registo bem simpático. Eu adorava ouvi-la na rádio, talvez por ela fazer uma crónica diferente, aproveitando situações interessantes para falar delas, e não falar mal de ninguém, e, também, por eu ser fã da sua filha, a actriz Maria do Céu Guerra. Lembro-me de duas crónicas radiofónicas sobre episódios da vida do meu pai, mas relacionados ambas com animais nossos, uma sobre a morte do nosso cão "Zero" e outra sobre a morte do nosso Cágado "Um". Um dia eu conto aqui.
Mas nunca nutri apetência para a crónica social da Vera Lagoa, que, de lápis afiado, como era a sua língua, tecia duras crítica, por vezes injustas, sobre a vida privada dos notáveis intelectuais daquele tempo.
Revistas Cor-de-Rosa e Crónicas Sociais nunca foram o meu estilo. Não comprava e não compro revistas e não alimento audiências televisivas desse calibre.
Aprendi a que a vida da cada um a cada um pertence e que não tenho que me preocupar com o que os outros pensam de mim. Aliás, fico feliz sempre que discordam de mim e não me apreciam. Era mau de mais que eu ou todos nós agradássemos aos outros... Era um péssimo sinal.
Cresci com o ensinamento popular de "os cães ladram e a caravana passa...", adágio que muito cedo o meu pai me ensinou para que eu não me preocupasse pelo facto de ter tendências a ser independente, gostar do que era diferente ou único e de termos vidas e gostos bem distintos da maioria.
Por isso aprendi a aceitar cada um como é e a respeitar as opções de vida dos outros, desde que legítimas e não criminosas.
Isto para falar de Carlos Castro, pessoa de quem eu não conhecia o seu trabalho, mas que não poderia deixar de conhecer ou mesmo ignorar a sua existência por ser uma figura emblemática da crónica social portuguesa.
Do pouco que apanhava dele na televisão dava para ver que seguia um pouco as passadas de Vera Lagoa, em algumas áreas.
Destaco o seu activismo no movimento LGBT, na sua colaboração com a Associação Abraço, na sua frontalidade ao assumir sua, entre outras manifestações cívica e de cidadania, em prol da defesa das minorias em Portugal e para uma luta de abertura de mentalidades.
É, por tudo isto, que eu tenho que dizer que, embora não tendo privado com ele, não ser sua fã, fiquei de rastos ao saber do fim macabro que este homem, que tantos ajudou nas suas carreiras, teve.
Tenho-me debatido entre o ser mãe de um rapaz que para mim é um filho de ouro, que jugo ser heterossexual e incapaz de matar outro ser humano, mas que, mesmo assim, confrontada com o que a mãe do confesso assassino de Carlos Castro foi confrontada, não estaria com a aflição máxima de provar à sociedade que o meu filho não era homossexual, como está a fazer a mãe e a irmã, pois homossexualidade não é um crime, mas sim estar preocupada em perceber toda a crueldade que existe num jovem de 21 anos que andava com Carlos Castro porque queria e não porque era obrigado.
Eu deixo sempre aos tribunais para julgarem os casos. Mas este caso não tem perdão. Um jovem usou um homem maduro de quem só queria tirar o proveito da fama. E fartou-se. Quando muito, se se encontrava numa situação de querer sair da relação e não saber como, teria sempre o Consulado Português para o ajudar.
JOÃO
Deixo a hiperligação para uma matéria que saiu no Publico.pt:
O cronista suscitava críticas e, por vezes, ódios
(Foto: Daniel Rocha/arquivo)
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