quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Morreu Ontem o Pintor Moçambicano Malangatana Valente Ngwenya (1936-2011)

Ontem de manhã, ao abrir a Internet, este foi o título que vi na minha homepage "Publico.pt":

          «Aos 74 anos
            Morreu o pintor moçambicano Malangatana
            05.01.2011 - 10:11 Por Lusa»


«(...)
Mais do que um pintor

Nos últimos 50 anos foi também muito mais do que pintor. Fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Fez experiências com areia, conchas, pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais, filantropo e até deputado, da FRELIMO, partido no poder em Moçambique desde a independência.

Ainda que o seu lado político seja o menos conhecido, Malangatana chegou a estar preso, pela PIDE, acusado de pertencer à então FRELIMO, sendo libertado ao fim de 18 meses, por não se provar qualquer vínculo à resistência colonial.
(...)»


Fiquei emocionada. Sou filha de um pintor já falecido há 16 anos que privou com Malangatana. Vi exposições dele, conheci muita da sua obra ao vivo, por livros de pintura e por imagens de televisão.

Sou apreciadora da sua pintura muito marcada pelo turbilhão de sentimentos, alguns antagónicos, que passam pela ira, raiva, indignação, humilhação, desespero, dor, alegria, êxtase... Enfim! Uma pintura muito viva, muito gritante, cheia de cor, de pessoas, de vivências... Uma pintura inigualável, facilmente reconhecida por quem lidou com pintores e pinturas.

Li e vi trabalhos televisivos sobre o homem Malangatana e, apesar de ser mais novo 13 anos do que o meu pai, a sua maneira de ser muito se assemelhava ao homem que o meu pai foi.

Sempre que alguém relacionado com a ARTE morre, a sua obra fica e, com ela, fica também a pessoa.

Gostaria de saber expressar o que sinto. Mas eu não sou boa na escrita. Sinto muito intensamente tudo. Mas as palavras não saiem. Fui sempre um pouco assim, mas piorei grandemente quando o meu pai partiu e eu fiquei doente, para sempre, com problemas de depressão, crises de ansiedade e ataques de pânico. Cheguei a deixar de conseguir falar palavras simples e, para me fazer entender, tinha que apontar, fazer gestos, etc..

Este tipo de perdas, como a de Malangatana, mexe muito comigo. Se são pessoas que privaram com o meu pai, eu sofro quase como se o meu pai estivesse a partir, novamente.

Malangatana era Moçambicano. Mas pertence ao Mundo! E o Mundo não o esquecerá!

JOÃO

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