Vi no Facebook este texto, que te deixo, e que foi publicado no barreiroweb.
Concordo com o que está escrito e, também eu, desgostei sobre maneira da forma como Cavaco se referiu à Guerra Colonial e aos jovens: “... a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do ultramar”.
O meu marido esteve em Angola desde 1962 a 1965. E não foi - como outros não foram -, impelido pela coragem e determinação para defender a pátria. Foi porque não pode deixar de ir, como tantos outros foram, e veio com Stress Pós-Traumático que ainda o afecta e afecta a sua família: eu e o filho. Ainda agora, com 70 anos, é duro ouvi-lo dormir, em constante aflição e eu sempre com receio que ele morra a dormir, vivendo ainda uma guerra injusta, que não queríamos, e que nos envergonha.
Coragem e determinação precisam os jovens para viverem sabendo que o presente é tão cruel e que o futuro não lhes reserva dias melhores.
Para veres outros "posts" sobre a Guerra Colonial, clica nestas hiperligações:
- 50 Anos em 4 de Fevereiro | A GUERRA COLONIAL COMEÇOU HÁ CINQUENTA ANOS por Mário Tomé
- Artigo de Mário Tomé «Guerra é Guerra» | Esquerda.Net
- Reportagem Especial da SIC Notícias: "O Meu Nome é Portugal" | Um Menino Usado como Mascote!!!
GUERRA DO ULTRAMAR? GUERRA COLONIAL!
Voltamos a este tema que nos é particularmente sensível : a Guerra Colonial.Transcrevo com a compreensão do autor : “ Recordo-me perfeitamente de no final de 1972 aparecer um avião com a polícia militar de luvas brancas e levar um furriel rebelde. Para evacuar feridos no mato, quase nunca havia meios aéreos (…) Ao longo de quase 40 anos fiz muitas reflexões sobre o tema da guerra colonial e aquela imagem do avião expressamente preparado para levar o camarada, nunca saiu do meu imaginário. Coloquei a mim próprio várias interrogações : para onde o teriam levado ? O que lhe teria acontecido ? Que mal teria feito ? “
A Guerra Colonial foi um acontecimento dramático, trágico e traumatizante para mais de um milhão de jovens portugueses, obrigados a participar na repressão dos povos africanos de Angola , Guiné e Moçambique, em luta pela sua libertação e independência.
Mesmo para aqueles que ficaram na paz podre dos QG`s nas cidades, o relato dos acontecimentos com o cortejo de mortes, estropiamentos, massacres, torturas, e o conhecimento “in loco” da exploração desenfreada, maus tratos e repressão dos indígenas, não podia deixar ninguém indiferente.
Cavaco Silva ao apontar à juventude portuguesa actual, “ a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do ultramar”, coloca-se no campo dos saudosistas/ militaristas que fizeram das guerras em África um negócio de sangue, um modo de sobrevivência do regime fascista e ainda hoje sonham com o Império !…
Se na altura a obnubilação da consciência pela propaganda facciosa e patrioteira, podia explicar o conformismo e o carreirismo de alguns jovens milicianos e profissionais ( mais que a adesão ideológica ), a tomada de consciência com o 25 de Abril, levou a uma atitude crítica e de distanciamento, como refere C. Mourato, que volto a transcrever com a devida vénia : “ Felizmente que o 25 de Abril e os horizontes que abriu a quem quis aproveitar, deram-me respostas a estas interrogações. O jovem militar rebelde tinha, para a época, uma visão e uma cultura política mais avançada. O regime não o tinha conseguido formatar.”
Voltemos ao discurso do senhor presidente da República. Se algum comportamento pode ser relevado como sobressalto cívico , é o daqueles que se exilaram para não participarem na desdita de sufocar em sangue e morte o direito inalienável dos povos africanos à autodeterminação e independência.
No sentido de participação generosa deverá ser evocada sobretudo a coragem, o desprendimento e a determinação daqueles que sacrificaram a liberdade, a vida familiar e profissional, muitas vezes o próprio futuro, lutando por dentro do aparelho militarista para por fim ao desvario colonialista.
De forma determinante deverá ser enaltecida a coragem e o patriotismo dos jovens “capitães de Abril”, que interpretando o mais alto sentimento dignificador da Pátria vilipendiada, puseram fim, com risco e prejuízo da sua fazenda, ao regime colonialista-fascista de Salazar e Caetano.
Em última análise poderia ser valorizada a honra e coragem de dezenas de milhares de jovens africanos que morreram combatendo pela dignidade e libertação das suas terras.
Só estes jovens militares antifascistas e anti colonialistas dos anos 60 e 70 do século passado, têm direito à exemplificação histórica e a serem apontados, pela sua insubmissão e revolta, às modernas gerações que têm a responsabilidade de redimirem hoje a Pátria Portuguesa da desgraça neoliberal e capitalista em que os novos “vendilhões do templo e senhores da guerra” ( continuados detentores do poder), a estão a afundar. Também com a responsabilidade do actual Presidente da República!
Em nome de todos aqueles que perseguidos, presos, torturados, despromovidos, humilhados, exilados, traumatizados, deram o melhor da sua generosidade idealista e revolucionária pelo fim da Guerra Colonial, e pela redenção da Pátria Portuguesa, exigimos a correcção da interpretação histórica reaccionária feita pelo presidente da República de Portugal.
Armando de Sousa Teixeira
( ex-cadete , ex-furriel e ex-soldado
do Exército Português, com o nº 09420870,
mobilizado em Moçambique, 1972/74 )
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