quinta-feira, 7 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto [1952-2011] | Nada lhe faltará!

Eu não posso deixar de tentar homenagear Maria José Nogueira Pinto que, embora estando politicamente em campos distintos que os meus - com ideias e a defender programas políticos bem diferentes do que os meus -, não deixava de ser uma mulher que eu admirava como mulher directa e frontal , por ser polémica, por ser determinada, por ser uma lutadora, pelo seu empenho na política e pelo seu trabalho na vida cívica.
Sempre defendi os políticos e a política, que adoro. Sempre tentei contribuir para fazer ver às pessoas a importância da política e necessidade delas acreditarem nos políticos que devem estar na política por convicção e missão. Sempre realcei que há políticos excepcionais em cada força política. Cabe acada um de nós estarmos vigilantes, atentos e participativos. E, claro, escolhermos, nas urnas, consoante as nossas opções políticas, responsabilizando aqueles que nos enganaram, roubaram, mentiram e decepcionaram
Neste último grupo eu não englobo a Maria José Nogueira Pinto, mesmo não concordando com ela, na grande maioria das vezes.
Mas era uma grande mulher e uma cidadã que merece a minha singela homenagem.
Deixo uma crónica que Maria José Nogueira Pinto escreveu para sair no Diário de Notícia no dia do seu funeral: «Nada me faltará»
E deixo, também, as hiperligações das matérias do Público.pt sobre a Maria José Nogueira Pinto.
Fica, pois, esta nota que faço com muita pena que a Maria José Nogueira Pinto tenha partido tão cedo. Mas sei que nada lhe faltará!
JOÃO


Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa. Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.
Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.
Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.
Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.
Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.
Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.
Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.
Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.
A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.
Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.
Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.
Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.
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Funeral de Maria José Nogueira Pinto realiza-se hoje em Óbidos
08:38 São José Almeida
O corpo de Maria José Nogueira Pinto está em câmara ardente na capela de sua casa, no Campo Grande, até às 16h e o cortejo fúnebre segue para À-dos-Negros, em Óbidos, onde se realiza o funeral às 18h.

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