Tal como o artigo de Fernando Rosas, este de Pedro Filipe Soares também faz uma análise excelente e bastante lúcida sobre os resultados eleitorais do Bloco de Esquerda.
São dois importantes contributos para uma séria reflexão que me parece estar a ser exigida por todos os bloquistas e por todos aqueles que querem ver o Bloco de Esquerda derrubado.Portanto, aconselho a leres este artigo, como aconselhei o artigo de Fernando Rosas.
Cada opinião individual contribui para o debate colectivo que se impõe. Mas não podemos esquecer que não há um Bloco de Esquerda para cada opinião. Há um bloco para todos, mas com aquilo que os une e trabalhando as diferenças que podem existir.
Mas, afinal, não é o Bloco o partido da Esquerda Grande e de Confiança?!
Claro que é!
JOÃO
Criar raízes
O contexto político exigirá do Bloco que se supere em defesa das pessoas, do trabalho com direitos, dos salários, das pensões e dos direitos.
Opiniao | 7 Junho, 2011 opiniao | Por Pedro Filipe Soares
Reduzir as vitórias apenas a um determinado facto costuma ser uma simplificação redutora, que muito pouco traz a qualquer tentativa de reflexão. Por outro lado, reduzir as derrotas a apenas um aspecto será, porventura, uma fuga maior a qualquer aprofundamento.
Os resultados eleitorais do Bloco de Esquerda nestas legislativas não foram os desejados. O Bloco viu quebrado o crescimento até agora conhecido, o grupo parlamentar reduzido e a fuga de um quinhão importante de votos. Este resultado foi uma derrota mas, como referido logo na noite eleitoral, saímos derrotados, mas não vencidos. Os motivos para estes resultados eleitorais são vários. Não tenho a intenção de ser exaustivo nesta análise, mas sobretudo realçar alguns aspectos políticos que terão sido factores maiores neste panorama.
Parece claro que em 2009 o Bloco beneficiou de votos motivados pelo afastamento entre Manuel Alegre e um PS mergulhado numa maioria absoluta autocrática. Este afastamento de Manuel Alegre em relação à política do Código de Trabalho de Vieira da Silva e às privatizações de Sócrates, bem como o seu diálogo com o Bloco de Esquerda, deram mais força ao principal argumento da campanha de então: o voto no BE é o mais certeiro para retirar a maioria absoluta a José Sócrates. Com a direita esvaziada e uma Ferreira Leite que criava anticorpos mesmo entre as suas hostes, a mensagem do BE passou e deu frutos. Não havia voto útil a que José Sócrates pudesse apelar, porque a direita não representava qualquer ameaça eleitoral. Este cenário político sofreu profundas alterações.
A reaproximação entre Manuel Alegre e José Sócrates, particularmente no debate sobre as medidas da troika que vão condicionar os próximos anos, reforçou a pressão para o regresso de muitos desses eleitores ao voto no PS. Este processo foi agudizado pelo reforço da direita, com um discurso mais extremado, o que deu ainda mais espaço para o discurso do voto útil. Este terá sido um factor importante para o recuo na votação no BE.
A votação entre os jovens já tinha sido afectada em 2009, com alguma perda de eleitorado. Nas eleições recentes, apesar de não se percepcionar perda de votação jovem para a direita, a verdade é que a influência do BE entre os jovens diminuiu, sobretudo perdendo para a abstenção. Este será o segundo pilar na quebra de votação e igualmente merecedor de atenção redobrada para o futuro próximo.
As razões apresentadas não pretendem esgotar esta análise. Contudo, dão a tónica sobre os principais motivos, apontando algumas perspectivas para o futuro próximo. O contexto político exigirá do BE que se supere em defesa das pessoas, do trabalho com direitos, dos salários, das pensões e dos direitos. Com o PS umbilicalmente ligado às medidas da troika, os socialistas procurarão alternativas e o Bloco será esse rosto, tanto mais que o debate sobre a necessidade da auditoria à dívida e da sua renegociação para proteger salários e pensões será o nosso dia a dia a partir de agora.
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