A minha admiração pelo Miguel Portas não pode aumentar porque já atingiu o máximo.
Este artigo - o primeiro de outros que virão sobre o pós eleições legislativas 2011 -, é muito elucidativo do homem sensato e de bem que Miguel Portas é.
É um artigo de uma lucidez que sempre o caracterizou. Por isso o admiro tanto!Este artigo - o primeiro de outros que virão sobre o pós eleições legislativas 2011 -, é muito elucidativo do homem sensato e de bem que Miguel Portas é.
Gostes ou não do Bloco de Esquerda, estamos perante mais outra excelente análise excelente sobre os resultados eleitorais do Bloco de Esquerda.
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JOÃO
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Bloco I: a questão da liderança
por Miguel Portas a quinta-feira, 8 de Junho de 2011 às 12:41
Se é verdade que o debate se faz nos orgãos próprios, também é certo que o bloco existe no espaço público e os seus assuntos interessam a quantos e quantas o têm apoiado. Arranco pelo mais "espinhoso" dos assuntos - a liderança: porque os orgãos de comunicação me massacram com ele e me perguntam por disponibilidades; e porque, também por aqui, várias pessoas têm exposto esse desejo. Esta nota começa com um post de Rui Bebiano - que não é militante do bloco, embora nele vote. É uma opinião sensata. Depois acrescento de minha lavra 5 notas breves.
"Quem veja a política, e em particular a política partidária, como uma experiência fundada no modelo unipessoal do líder que determina a linha, tem, visivelmente, uma grande dificuldade em dizer o quer que seja de razoável em relação à encruzilhada na qual se encontra neste momento o Bloco de Esquerda.
O BE, convém lembrar, não funciona como o PS, o PSD ou o CDS, partidos nos quais a verdadeira força propulsora não é o programa ou a moção de orientação aprovada em congresso, mas sim a rédea e a retórica do líder e do seu pequeno grupo, que moldam a paisagem à sua volta para a adaptarem a uma intervenção carismática de tipo messiânico e a uma direcção centralizada. Foi este, aliás, um dos motivos que levou o Partido Socialista a um processo de descaracterização política que o fez perder a marca identitária de partido popular e de convicções.
Mas o Bloco também não é o PCP, com uma direcção sedimentada, um corpo de funcionários profissionais e uma base social estável, que o autorizam a mudar alguns rostos e vozes sem com isso alterar significativamente a linha e o discurso. O Bloco é antes um partido de aproximações e de vontades, de convergências num ambiente de razoável liberdade, onde toda a gente fala com toda a gente, sem caciquismo instituído ou «centralismo democrático», que transforma cada militante, e mesmo cada dirigente, numa peça indispensável.
Isto significa que pedir demissões a toque de caixa equivale a quebrar este clima razoavelmente aberto e democrático. E equivale também, dada a real escassez dos quadros, a propor a sua liquidação a médio prazo, eventualmente antecedida da tomada do poder por uma qualquer facção ultra-militante que o radicalize e faça sangrar até que retorne ao estado grupuscular de onde há mais de uma década partiu".
O meu comentário:
1. Concordo no essencial com o post, em particular com a sua conclusão. Uma convenção extraordinária, realizada a correr, para "ajustar contas" e "substituir a liderança", é o pior que o bloco poderia fazer a si próprio. Se Francisco Louçã se tivesse demitido na noite dos resultados, eu tê-lo-ia criticado por irresponsabilidade, por muito que ele tivesse o direito de o fazer e, mais ainda, o pudesse compreender.
2. Todos os partidos têm a sua cultura. Sócrates ou Passos Coelho teriam que se demitir desde que perdessem expressivamente. Porque esses partidos estão preparados para processos de substituição em concorrência aberta. Não critico o procedimento, apenas sustento que não serve para o bloco. O PCP, pelo contrário, é um colectivo que viveu, durante décadas, com um secretário-geral invulgar e que, depois da sua partida, vem renovando a equipa dirigente e os protagonistas de acordo com uma linha de continuidade. É um método que funciona quando as divergências políticas são menores ou inexistentes.
3. A cultura do bloco está ainda em formação. Ela mistura o direito democrático de concorrência com uma construção política onde o o consenso e o discenso se doseiam no interior de um colectivo dirigente que, para o melhor e o pior, trouxe o bloco até onde ele se encontra. Expús em entrevista anterior à Convenção a minha opinião: é tempo do bloco preparar a passagem de testemunho dos fundadores para as gerações mais novas de quadros dirigentes. Disse-o bem antes dos resultados e eles não alteraram a minha convicção.
4. Bem pelo contrário. A expressividade da derrota coloca, queira-se ou não, um problema de credibilidade à actual direcção que é, embora com renovações significativas, a da fundação. Assumir que existe um problema de "refresh" na direcção bloquista não é "pecado". Isso envolve tanto o Francisco Louçã, como o Luís Fazenda, o Fernando Rosas ou eu próprio. E isto para não falar de um conjunto alargado de quadros que deram a este partido os melhores anos das suas vidas em distritais e concelhias e nos movimentos e organizações sociais. Temos, enquanto partido, várias questões de orientação e de prática política para resolver. É no contexto deste debate - e não fora dele - que se coloca o problema do "refresh": estamos 13 anos mais velhos e não fizémos tudo o que podíamos para distribuir responsabilidades às gerações que já nasceram para o combate político no bloco. Não sou favorável a um ajuste de contas por causa de maus resultados. Sou favorável a uma renovação legitimada da equipa dirigente, feita em tempo útil, com soluções criativas e mantendo unida a articulação que tem dirigido o partido.
5. Integro a Mesa Nacional do BE e cumprirei, se a saúde o permitir, o mandato parlamentar para que fui eleito, mas já não farei parte da próxima Comissão Política. Actuo em coerência com o que defendo. Isto responde a todas as perguntas que me façam sobre putativas lideranças. Não sou candidato a substituir ninguém, muito menos Francisco Louçã, que conheço de antes do 25 de Abril, com quem muitas vezes me entendi e excepcionalmente me desentendi, e de quem, acima de tudo, sou amigo.
"Quem veja a política, e em particular a política partidária, como uma experiência fundada no modelo unipessoal do líder que determina a linha, tem, visivelmente, uma grande dificuldade em dizer o quer que seja de razoável em relação à encruzilhada na qual se encontra neste momento o Bloco de Esquerda.
O BE, convém lembrar, não funciona como o PS, o PSD ou o CDS, partidos nos quais a verdadeira força propulsora não é o programa ou a moção de orientação aprovada em congresso, mas sim a rédea e a retórica do líder e do seu pequeno grupo, que moldam a paisagem à sua volta para a adaptarem a uma intervenção carismática de tipo messiânico e a uma direcção centralizada. Foi este, aliás, um dos motivos que levou o Partido Socialista a um processo de descaracterização política que o fez perder a marca identitária de partido popular e de convicções.
Mas o Bloco também não é o PCP, com uma direcção sedimentada, um corpo de funcionários profissionais e uma base social estável, que o autorizam a mudar alguns rostos e vozes sem com isso alterar significativamente a linha e o discurso. O Bloco é antes um partido de aproximações e de vontades, de convergências num ambiente de razoável liberdade, onde toda a gente fala com toda a gente, sem caciquismo instituído ou «centralismo democrático», que transforma cada militante, e mesmo cada dirigente, numa peça indispensável.
Isto significa que pedir demissões a toque de caixa equivale a quebrar este clima razoavelmente aberto e democrático. E equivale também, dada a real escassez dos quadros, a propor a sua liquidação a médio prazo, eventualmente antecedida da tomada do poder por uma qualquer facção ultra-militante que o radicalize e faça sangrar até que retorne ao estado grupuscular de onde há mais de uma década partiu".
O meu comentário:
1. Concordo no essencial com o post, em particular com a sua conclusão. Uma convenção extraordinária, realizada a correr, para "ajustar contas" e "substituir a liderança", é o pior que o bloco poderia fazer a si próprio. Se Francisco Louçã se tivesse demitido na noite dos resultados, eu tê-lo-ia criticado por irresponsabilidade, por muito que ele tivesse o direito de o fazer e, mais ainda, o pudesse compreender.
2. Todos os partidos têm a sua cultura. Sócrates ou Passos Coelho teriam que se demitir desde que perdessem expressivamente. Porque esses partidos estão preparados para processos de substituição em concorrência aberta. Não critico o procedimento, apenas sustento que não serve para o bloco. O PCP, pelo contrário, é um colectivo que viveu, durante décadas, com um secretário-geral invulgar e que, depois da sua partida, vem renovando a equipa dirigente e os protagonistas de acordo com uma linha de continuidade. É um método que funciona quando as divergências políticas são menores ou inexistentes.
3. A cultura do bloco está ainda em formação. Ela mistura o direito democrático de concorrência com uma construção política onde o o consenso e o discenso se doseiam no interior de um colectivo dirigente que, para o melhor e o pior, trouxe o bloco até onde ele se encontra. Expús em entrevista anterior à Convenção a minha opinião: é tempo do bloco preparar a passagem de testemunho dos fundadores para as gerações mais novas de quadros dirigentes. Disse-o bem antes dos resultados e eles não alteraram a minha convicção.
4. Bem pelo contrário. A expressividade da derrota coloca, queira-se ou não, um problema de credibilidade à actual direcção que é, embora com renovações significativas, a da fundação. Assumir que existe um problema de "refresh" na direcção bloquista não é "pecado". Isso envolve tanto o Francisco Louçã, como o Luís Fazenda, o Fernando Rosas ou eu próprio. E isto para não falar de um conjunto alargado de quadros que deram a este partido os melhores anos das suas vidas em distritais e concelhias e nos movimentos e organizações sociais. Temos, enquanto partido, várias questões de orientação e de prática política para resolver. É no contexto deste debate - e não fora dele - que se coloca o problema do "refresh": estamos 13 anos mais velhos e não fizémos tudo o que podíamos para distribuir responsabilidades às gerações que já nasceram para o combate político no bloco. Não sou favorável a um ajuste de contas por causa de maus resultados. Sou favorável a uma renovação legitimada da equipa dirigente, feita em tempo útil, com soluções criativas e mantendo unida a articulação que tem dirigido o partido.
5. Integro a Mesa Nacional do BE e cumprirei, se a saúde o permitir, o mandato parlamentar para que fui eleito, mas já não farei parte da próxima Comissão Política. Actuo em coerência com o que defendo. Isto responde a todas as perguntas que me façam sobre putativas lideranças. Não sou candidato a substituir ninguém, muito menos Francisco Louçã, que conheço de antes do 25 de Abril, com quem muitas vezes me entendi e excepcionalmente me desentendi, e de quem, acima de tudo, sou amigo.
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