quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Actriz Maria Dulce (1936-2010) | Fim de uma Carreira Extraordinária!

Morreu ontem, com 73 anos, uma das maiores e mais importantes actrizes portugueses: Maria Dulce.

A actriz nasceu a 11 de Outubro de 1936 e morreu a 24 de Agosto de 2010, em Bucelas, Loures, local que a viu nascer.

Maria Dulce estreou-se com 13 anos, no cinema, pela mão do cineasta António Lopes Ribeiro, que a escolheu para o papel de Maria e Noronha, no filme "Frei Luís de Sousa", baseado na obra em 3 actos, com o mesmo nome e escrita por João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, que continua a ser considerada um clássico da literatura de língua portuguesa e uma das criações máximas do teatro português.

Maria Dulce fez com que esta obra fosse conhecida por todos os portugueses, mesmo aqueles que não sabiam ler. Foi, por isso, a menina querida de Portugal e não há ninguém que não a admire como a grande actriz que foi.

Depois do Frei Luís de Sousa trabalhou em Espanha, onde viveu durante uns anos e onde foi muito acarinhada e teve um enorme sucesso.

Com uma brilhante carreira de 60 anos, Maria Dulce foi uma actriz completíssima. Fez recitais de poesia, teatro, filmes, revista, séries de televisão, telenovelas e foi, também, a produtora do filme “A Luz Vem do Alto”, de 1959, filme onde investiu todo o dinheiro que ganhou em Espanha e que, embora tivesse bastante sucesso e tivesse sido vendido para vários países, ela não viu a cor do dinheiro. Mas não se importou porque o guião do filme foi uma paixão e ela arriscou tudo por essa paixão.

Com Artur Semedo, Maria Dulce foi protagonista da primeira série televisiva alguma vez feita em Portugal. Essa séria ia para o ar, gravada em directo, todas as Quintas-Feiras. A série chamava-se «Lena e Carlos» ou «Carlos e Lena» e estreou-se no final de 1959 ou no início de 1960.

Há tanto, mas tanto, por dizer de Maria Dulce. Falar da extraordinária beleza física e interior nem vale a pena, pois ela é conhecida de todos. Mas fazendo pesquisa certamente vais encontrar muito sobre a carreira de Maria Dulce.

O que eu escrevi aqui, fi-lo de memória e porque ontem, por acaso, vi uma entrevista de Maria Dulce na RTP Memória gravada em 2006. Foi aí que eu me apercebi que a Maria Dulce deveria ter falecido!

Fiquei atenta às aberturas e resumos de todos os telejornais. Mas nada! Só futebol e mais futebol, acidente na A25 e mais acidente na A25, PSD e mais PSD, etc., etc., Fiquei até à 1 da manhã a tentar ver todas as aberturas e resumos de notícias dos canais de notícias por cabo. E nada!

Ontem não abri o PC. Não estava bem. Hoje fui ver o Público e a notícia da morte de Maria Dulce deixa muito a desejar. Resolvi não procurar mais!

Lamento que uma personalidade tão grande da cultura portuguesa, ainda no activo, esteja a ser, assim, tratada!

Agradeço à RTP Memória terem colocado a entrevista que fizeram com a Maria Dulce em 2006 como uma forma de homenagear a atctriz. Não a vi toda pois perdi o princípio, mas vi grande parte mesmo sem saber que a Maria Dulce já não estava entre nós.

Portugal é mesmo muito pequenino e muito mesquinho!

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Deixo artigo do Público.pt com a reacção de Filipe La Féria. Só um grande génio e ser humano como é Filipe La Féria para saber distinguir outro grande génio e ser humano.

JOÃO
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Maria Dulce
 Filipe La Féria: “Se fosse inglesa era uma dame,
 aqui morreu pobremente”
24.08.2010 - 19:55 Por Lusa

O encenador Filipe La Féria classificou Maria Dulce, hoje falecida, aos 73 anos, como “uma grande actriz” que, “se fosse inglesa, era uma dame” mas em Portugal “morreu pobremente, com dificuldades, esquecida por todos”.

“A Maria Dulce foi uma estrela do teatro de revista e sobretudo do cinema. Ela fez filmes extraordinários. Estreou-se como actriz no ‘Frei Luís de Sousa’ ainda muito nova, com 12 anos. O seu nome ficará sempre ligado ao cinema português e também ao teatro ligeiro. Ela, comigo, fez, na Casa da Comédia, o ‘Faz Tudo, Faz Tudo, Faz Tudo’ – que foi uma peça memorável em que ela fazia um papel extraordinário – e fez na televisão comigo também a ‘Grande Noite’”, disse o encenador à agência Lusa.

“Era uma actriz excelente, uma chamada vedeta de revista – isto, no bom sentido – uma mulher lindíssima, com uns olhos verdes fascinantes e com uma voz que prendia o público. É pena que esse teatro esteja tão decadente, porque ela foi um bocadinho vítima do declínio do teatro em que ela era uma estrela absoluta”.

Filipe La Féria classificou ainda Maria Dulce como “uma actriz versátil”, que fez “desde teatro de revista ao teatro clássico”, no Teatro Nacional D. Maria II, na Companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro.

Na sua opinião, a memória dela “ficará muito presa ao cinema, sobretudo à Maria de Noronha que ela faz fantasticamente no ‘Frei Luís de Sousa’ do António Lopes Ribeiro”.

O encenador referiu ainda o facto de a actriz ter também feito “muita televisão”, e sublinhou que “era uma actriz de primeiro plano” e “uma mulher lindíssima”:

“Trata-se de uma grande actriz que desaparece, infelizmente muito esquecida quer pelo público, quer pelos responsáveis pela cultura. Não era uma segunda figura, mas uma primeira figura do teatro português, fez trabalhos fantásticos. Se fosse inglesa, era uma dame. Aqui não, aqui morreu pobremente, com dificuldades, e esquecida por todos. É muito o espírito português, infelizmente. Em Portugal, as pessoas são muito esquecidas e maltratadas. Só quando morrem é que se lembram delas... Isso deixa-me triste, deixa-me muito triste.”

1 comentário:

  1. Hoje, no Correio da Manhã.
    JOÃO
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    Óbito: Desaparece a ‘Maria’ de ‘Frei Luís de Sousa’

    Morre após o ensaio
    Faleceu ontem, aos 73 anos, Maria Dulce, a eterna ‘D. Maria de Noronha’, do filme ‘Frei Luís de Sousa’, actriz que nas décadas de 50 e 60 fez muito cinema e, mais recentemente, entrou em telenovelas e séries de produção nacional, como ‘Pai à Força’ ou ‘Liberdade 21’.

    Muito popular em Espanha – onde chegou a ter uma companhia própria, em Madrid –, a actriz, que não deixa família, vai a enterrar a custos da Casa do Artista.

    "Ela tinha uma casa no Alentejo, mas quando estava a ensaiar em Lisboa costumava ficar num quarto, em Bucelas. Foi aí que a encontraram", revelou ao CM a actriz Manuela Maria, responsável daquela instituição.

    Maria Dulce estava actualmente a ensaiar a peça ‘Sabina Freire’, do escritor e ex-Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, sob a direcção de Celso Cleto e ao lado de Sofia Alves. Mas no ensaio de segunda-feira sentiu-se mal.

    "Ela teve uma quebra de tensão na casa de banho e ficámos preocupados", recorda o encenador. "A Maria Dulce não andava bem, estava em baixo de forma. Até tinha desistido de um espectáculo no Teatro Aberto", diz ainda, acrescentando que não se lhe conhecia qualquer doença.

    "A única coisa que me satisfaz é saber que ela morreu a trabalhar, como queria e como deve acontecer com todos os artistas. Que não morreu abandonada a um canto, como acontece com outros..."

    A falta da actriz foi notada pela produtora da peça, que lhe telefonou, à hora de almoço de ontem, e que, à falta de resposta, ligou à polícia. O corpo da actriz foi então descoberto e levado para o Instituto de Medicina Legal, para a autópsia.

    Nos últimos anos, Maria Dulce colaborava com Celso Cleto, com quem fez também a peça ‘Hedda Gabler’.

    DEPOIMENTOS

    "Era uma profissional extraordinária, muito dedicada, e estava muito feliz por ter a possibilidade de mostrar trabalho, quando estava posta de lado.": Sofia Alves, actriz

    "Gostava muito de trabalhar com a Maria, que recordo como excelente actriz, amiga e confidente. Está a desaparecer uma geração de ouro. É assustador.": Guilherme Filipe, actor

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