segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Morreu Mário Bettencourt Resendes (1952-2010) | Aos 58 Anos em Lisboa


O jornalista Mário Bettencourt Resendes, antigo director do Diário de Notícias e Provedor dos Leitores, ainda do Diário de Notícias, morreu hoje, aos 58 anos, na sequência de um cancro que combatia há 15 anos.

Era um homem de valores éticos muito fortes, um homem sério, um profissional isento e de muito bom senso, e eu adorava ouvi-lo nas suas intervenções, quer a solo, quer em debate com outros jornalistas, alguns não tão isentos e não tão calmos. Mas ele mantinha sempre a postura sóbria e de um autêntico profissional da comunicação social, com a isenção que lhe era requerida. Relembro que Mário Bettencourt Resendes era comentador da SIC e da SIC Notícias.

Partiu um excelente profissional! Partiu um extraordinário ser humano!

Lamento que tenha sido tão cedo e só me resta dizer-lhe:

Até sempre!

JOÃO

PS:
Fica uma entrevista a Mário Bettencourt Resendes.
JOÃO

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 Mário Bettencourt Resendes: "Não serei um provedor
 para ser popular"
por NUNO AZINHEIRA | 06 Julho 2007

Entrevista a Mário Bettencourt Resendes, Provedor dos Leitores do Diário de Notícias.

 Ficou surpreendido com o convite para ser provedor do leitor do DN? Como é que o recebeu?

Recebi-o como um grande desafio, ainda por cima porque é uma responsabilidade acrescida de alguém, como eu, que foi o responsável pela criação do cargo de provedor neste jornal, lugar que foi ocupado pelo Mário Mesquita. E, portanto, assim sendo, eu não podia recusar o convite do João Marcelino. Procurarei que seja útil para o jornal, até porque, como sabe, sou há muito um adepto assumido da auto-regulação.

Foi director do DN durante 12 anos e tem, por isso, proximidade com uma grande parte dos jornalistas da casa. Como é que vai conseguir casar a independência crítica de um provedor com a amizade pessoal que o liga a muitos redactores?

Os jornalistas estão muito mais habituados a criticar do que a serem criticados. E nessa medida eu sei, por experiência própria, que o magistério do provedor é encarado muitas vezes com algum mal-estar por parte dos visados. Quanto à proximidade que ainda tenho com a Redacção do DN, confio na inteligência dos meus colegas e farei os possíveis por ser justo na avaliação que farei dos assuntos.

Recebeu mensagens de congratulação com a sua escolha?

Recebi, recebi. Algumas até de colegas da redacção, o que muito me honra. Mas, atenção, não serei, seguramente, um provedor para ser popular na Redacção ou para ganhar alguma eleição de popularidade dentro do DN. Já passei por essa fase na minha vida. Espero que no final do meu mandato não tenha criado inimizades na Redacção. Mas se isso acontecer, encararei com naturalidade esse facto.

Uma coisa é a inteligência do jornalista, outra coisa é a mediatização de um erro ou de uma má prática jornalística...

É verdade, ninguém gosta de apanhar na cabeça. Mas, apesar de tudo, aquilo que hoje se passa em Portugal prova que aqueles como eu que, há vários anos, vinham a defender o alargamento dos mecanismos de auto-regulação tinham razão.

O que é que os leitores do DN vão poder esperar de si?

Procurarei ser menos teórico e mais prático. Embora seja exigível que um provedor tenha conhecimentos de sociologia da comunicação, acho que é decisivo que um conhecimento íntimo do exercício profissional se reflicta depois no magistério do provedor. Procurarei também, e isso deriva da minha sensibilidade jornalística, que a configuração da página do provedor contemple algumas das exigências do jornalismo moderno. Quero que a página seja lida com gosto pelos leitores, tenha algum sal e pimenta, que, admito, em ocasiões passadas, pode não ter tido, embora isso dependa muito da sensibilidade de cada provedor. A página do provedor tem de ter apelo, não pode ser uma maçada, tem de ser interventiva, um marco no jornal e de leitura obrigatória.

Em todo o mundo o cargo de provedor existe, maioritariamente, na imprensa de referência. Faz sentido continuar a fazer esta distinção entre jornais de referência e jornais populares, ou o leitor comum está pouco preocupado com isso?

Nos últimos anos temos assistido a uma aproximação no tratamento de conteúdos entre jornais de referência e jornais populares. Nalguns casos, essa aproximação é em excesso, embora os jornais ditos de referência tenham feito bem em prestar atenção a um conjunto de temas considerados menores. Até porque se percebeu que esses temas são do interesse generalizado do público, independentemente da sua classe social. Portanto, os jornais de referência fizeram bem em alargar a sua esfera de interesses. O que não fizeram bem, nalguns casos, foi em prescindir de um tratamento diferenciado. A diferença faz-se, hoje em dia, não pelos temas tratados, mas pela forma como se trata um determinado assunto. Até porque os públicos são diferentes: um leitor do Diário de Notícias ou do Público tem um grau de exigência superior, em relação à qualidade e à profundidade do tratamento jornalístico, ao dos leitores de outros jornais que estão mais abaixo na pirâmide social.

Há muito que tem defendido a auto-regulação dos jornalistas...

Pois, mas não se avançou nada nesse capítulo. E os resultados estão à vista. Estamos a assistir, neste momento, à instituição de um conjunto de regras, que eu tipificaria quase como policiamento deontológico, de cariz administrativo. Estou a referir-me ao projecto do novo Estatuto dos Jornalistas.

E que tem sido muito criticado...

Claro que merece, mas se tivéssemos, atempadamente, posto em prática mecanismos de auto-regulação dentro da classe, teria sido diferente. Estou a referir-me à Ordem dos Jornalistas. É a própria classe que deveria sancionar os casos que existem. Se isso tivesse acontecido, provavelmente o poder político não se teria atrevido a chegar ao que chegou.

E, em sua opinião, um sindicato, independentemente da sua direcção, não pode fazer isso?

São coisas diferentes. Há vários casos de classes profissionais em que coexistem sindicatos e ordens, com poderes, vocações e funções completamente diferentes. Devo dizer-lhe, aliás, que o Sindicato dos Jornalistas, em abstracto porque não estou a falar de qualquer direcção em particular, tem algumas responsabilidades nessa matéria, porque sempre encarou uma eventual Ordem dos Jornalistas como um fantasma. O resultado dessa posição de teimosia é aquilo a que assistimos hoje.

E a que é que assistimos hoje?

Não vou dizer que está em risco a liberdade de expressão em Portugal, ou que nos aproximamos de configurações legais de ditadura, mas há sinais preocupantes, de que a classe tem algumas responsabilidades, porque esteve demasiado tempo distraída.

Uma classe que tem fama de ser muito corporativista...

Sim, do ponto de vista de imagem pública, sim, mas quanto a acção prática não é isso que se vê. Há muito que não se vêem resultados.

1 comentário:

  1. No Publico.pt

    Mário Bettencourt Resendes morre aos 58 anos

    O jornalista faleceu no Hospital Cuf Descobertas, pelas 02h15, e o corpo vai estar em câmara ardente na Igreja de S. João de Deus, em Lisboa, a partir das 17h30.

    O cortejo fúnebre segue amanhã - após a celebração da missa de corpo presente, pelas 15h00 - para o crematório do Cemitério dos Olivais em Lisboa, onde o corpo do jornalista será cremado às 17h00.

    Actualmente, Mário Resendes desempenhava a função de Provedor do Leitor do jornal “Diário de Notícias” (DN).

    Apesar de ter sido, nos últimos anos, um dos comentadores políticos mais presentes na televisão (SIC) e na rádio (TSF), Mário Resendes tornou-se conhecido por ser director do "Diário de Notícias", cargo que ocupou no início da década de 90 e de onde saiu em 2003.

    Nasceu em 1952 em Ponta Delgada e começou a sua carreira no jornalismo em 1975, depois de ter sido “apanhado” pelo 25 de Abril quando estava no quinto ano do curso de Gestão de Empresas e Economia.

    Com as aulas paradas e a sociedade em convulsão, Mário Resendes resolveu ir tirar um curso de jornalismo a Paris. Nunca mais voltou à economia.

    Em 1975 foi estagiar como jornalista do "Diário de Notícias" e, no final do estágio, entrou para a equipa fundadora do "Jornal Novo", um diário de combate ao gonçalvismo. Ainda passou por uma revista semanal chamada "Opção" mas pouco mais de um ano depois, em Novembro de 1976, voltou ao DN, onde ingressou nos quadros.

    No DN foi, sucessivamente, redactor de Política Nacional, editor do suplemento “Análise DN”, coordenador das secções de Política Nacional, Economia e Trabalho, e director adjunto.

    Tornou-se director a partir de 1992 e cumpriu o seu papel quando o jornal já tinha passado para as mãos da Lusomundo (PT). Já não era, porém, director do matutino quando a Controlinveste entrou no jornal.

    Depois de sair da direcção do DN, tornou-se, em 2007, provedor dos leitores daquele título, cargo cuja criação aconteceu por sua iniciativa.

    Apesar do interesse no jornalismo ter perdurado mesmo depois de sair da direcção do DN, deixou para trás um sonho que considerou inconcretizável: ser governador de Macau. “Tenho um grande fascínio pelo oriente e deve ter sido extremamente interessante o exercício daquelas funções e a relação com a República Popular da China”, disse numa entrevista.

    Além de jornalista, Mário Resendes foi professor de Comunicação Social no Instituto Superior de Comunicação Social, moderador de mesas-redondas, analista político e responsável por programas na RTP e na Rádio Comercial e comentador político na TSF.

    Assumiu ainda a vice-presidência da comissão directiva europeia da Associação de Jornalistas Europeus, a presidência da assembleia geral da secção portuguesa e em 1994 foi nomeado, pela Comissão Europeia, para fazer parte do Conselho Consultivo dos Utilizadores (Bruxelas).

    Membro do conselho director do Centro Europeu de Jornalismo, foi galardoado com o Prémio Europeu de Jornalismo, atribuído pela Associação de Jornalistas Europeus, em 1993.

    Foi ainda porta-voz do Movimento Informação e Liberdade, criado em 2008, com o objectivo de ser interlocutor em todos os processos de discussão de matérias de interesse para a classe dos jornalistas como a auto regulação e o acesso à profissão.

    ResponderEliminar