Ao Francisco Louçã, na impossibilidade de ter estado presente na Sessão Evocativa dedicada ao Miguel Portas, o meu afecto pelos dois é tão grande e tão forte como aquele que me une aos meus irmãos. E por ser tão intenso, a dor de todos que amam o Miguel, como o Francisco, é-me penosa, também.
Queria poder abraçar todos vós!
Este texto que li me reli, tão sincero, tão verdadeiro, vou levá-lo para o meu Blog, onde tenho, sempre que posso, colocado aquilo que me ajuda a suportar a partida do Miguel e lhe prestar a minha singela homenagem.
Abraço grande da
JOÃO
Queria poder abraçar todos vós!
Este texto que li me reli, tão sincero, tão verdadeiro, vou levá-lo para o meu Blog, onde tenho, sempre que posso, colocado aquilo que me ajuda a suportar a partida do Miguel e lhe prestar a minha singela homenagem.
Abraço grande da
JOÃO
Notas de
Francisco Louçã
no Facebook
Quando me contou que ia começar mais uma série de quimioterapia agressiva, o Miguel escreveu-me que “o bicho voltou mas eu ainda não disse a última palavra”. Era uma conversa entre nós – e todos os seus amigos terão estes momentos e estas conversas para recordar, cada um à sua maneira –, por causa de uma citação de Ernst Bloch, “ninguém tem a última palavra”. Um de nós, qual foi nem importa, tinha-a usado uma vez numa convenção do Bloco, nunca ninguém tem a última palavra. É uma lição de humildade e de humanidade, nunca ninguém tem a última palavra. E repetimo-la muitas vezes, os dois, já nos ouviram a dizer isto, lembram-se?
Eu ainda não disse a última palavra, disse ele. Nem o cancro. Ninguém tem nunca a última palavra. Fica sempre alguma coisa por dizer, há sempre alguém que dirá mais. Nunca fica tudo dito.
Do Miguel também não. Dos seus defeitos, que “quem nunca se arrepende ou é santo ou é tonto”, escreveu ele. Irritável como romântico, como se pode ser as duas coisas? Sorridente e ansioso, como se pode viver das duas maneiras? Das suas qualidades, a curiosidade, a abertura, a busca incessante de caminhos, as contradições sofridas, sobretudo a ternura. Uma alegria contagiante quando era. Tristeza quando não era, são assim os românticos, e nunca me digam que o romantismo não é belíssimo. Ninguém tem nunca a última palavra.
Nem com o que dele disseram. O Presidente da República e o Primeiro-ministro, seus adversários em eleições em que se empenhou, que foram correctíssimos, como o presidente do Governo Regional dos Açores. A Presidente da Assembleia da República, em mensagens de sensibilidade tocante. Os partidos políticos, todos e de todos os quadrantes, os eurodeputados, a CGTP, associações tantas, pessoas imensas. Todos, sabendo que não diriam a última palavra. Partidos europeus, a Polisário, tantos dos seus amigos do Médio Oriente. Todos.
Os que desfilaram no 25 de Abril na Avenida da Liberdade, fiéis ao que somos. Todos.
Palavras a mais, sim, também houve. A do presidente do Parlamento Europeu, que se disse espantado por não imaginar que o Miguel tivesse criado tantas amizades naquele parlamento, que não é propriamente lugar de sensibilidades. Ninguém tem a última palavra, senhor Martin Schulz, talvez tenha aprendido alguma coisa.
Fica sempre alguma coisa por dizer. Da viagem que faltava. Do gosto de ter os filhos a seu lado para continuar sempre a aprender a ser pai. Do livro que ficou por fazer, sobre a Europa. Do arroz de pato. Da banda desenhada, do Corto Maltese ao Bilal, quem desenha o quê? Do amor das coisas simples, como dele dizia Assunção Esteves. Da esperança a contar os dias até às eleições francesas e gregas. Da sua última viagem a Atenas, para ajudar quem luta. Nunca ninguém tem a última palavra, Miguel.
Foto de Paulete Matos
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