Só sei que respeito as ideias de todos os que têm uma opinião formada sobre este caso. Mas eu discordo de muito que tem sido dito, mesmo pelos meus queridos correligionários bloquistas e, até, os seus líderes que eu muito admiro. Apesar de ser a favor da LIBERDADE DE EXPRESSÃO e da LIBERDADE DE INFORMAÇÃO, de tal forma que daria a vida para que não as perdêssemos, não sou fundamentalista a ponto de defender a democracia sem a DIPLOMACIA que penso ter que existir entre Estados para preservarmos a PAZ Mundial.
As fugas de informação de um Estado devem preocupar-nos a todos. Um Estado democrático tem que zelar pelos seus SEGREDOS DE ESTADO.
Não estou contra o site “WikiLeaks”. Muitas das revelações são importantes e pertinentes. Outras são puras coscuvilhices que não são, sequer, surpresas para ninguém.
O que sobretudo importa neste caso são as suas consequências. Uma Ciberguerra é uma delas. Mas temos que ponderar bem se as fugas de informação não são prejudiciais para os estados democráticos e não favorecem os Estados Ditadores e o terrorismo.
Muitas são as minhas questões que não têm tido respostas que não sejam completamente fundamentalistas vindas de quase todos os agentes de opinião.
Por isso, só agora deixo um artigo de opinião que está no Esquerda.Net e que foi escrito pelo Eurodeputado eleito pelo Bloco de Esquerda, Miguel Portas.
É uma excelente matéria sobre sobre o assunto em título e, como sempre, bem fundamentada, contida e não empolgada, como Miguel Portas nos habituou.
JOÃO
Wikileaks
Julian Assange é um Robin dos bosques dos tempos modernos: rouba segredos aos poderosos para os dar ao cidadão comum.
Opiniao | 11 Dezembro, 2010 | Por Miguel Portas
Declaração de interesses: sou jornalista de profissão. Não a exerço porque desempenho funções políticas remuneradas. Mas conheço algo destes dois mundos que agora se confrontam no espelho da Wikileaks. Compreendo porque divergem tão radicalmente.~
Listo algumas críticas: os telegramas revelados não são mediados – de facto, são. Até esta semana só tinham sido publicados 837 de um universo de 250 mil. A selecção está a ser feita por jornais acima de qualquer suspeita. Antes, as críticas incidiram na possibilidade da informação poder colocar a vida de pessoas em risco. Na verdade, foram as próprias autoridades militares dos EUA que reconheceram ainda não se ter registado qualquer situação desse tipo no Iraque ou no Afeganistão. Há também quem considere que a publicação de segredos compromete “a segurança dos Estados”. Esta objecção chega a ser comovente, já que tem origem em criaturas e serviços absolutamente insensíveis à segurança dos cidadãos em face dos abusos da razão de Estado. Com uma qualquer rede wikileaks actuando em tempo real, a organização da mentira em que se fundou a ocupação do Iraque teria sido, sabemo-lo hoje, bem mais difícil. Risível é ainda o argumento de que as notícias vindas a público “não contêm nada de novo”. Se assim é, porquê a dramaticidade posta na polémica e mais ainda a guerra tentacular que os EUA declararam a Julian Assange? Não há exagero no qualificativo. Quem já viu a Suíça fechar contas bancárias a quem nem sequer foi julgado? Como acreditar que multinacionais de débito e crédito cortem cartões a quem paga na hora? Nesta louca história de vingança só a história de sexo sem preservativo parece normal, ou seja, saída de um livro de espionagem...
Passemos, por isso, aos bons argumentos. Eis como Francisco Seixas da Costa sintetiza um deles: "Na guerra como na paz, os serviços de “cifra” procuram assegurar franqueza e discrição (...) A divulgação de centenas de milhares de documentos pela WikiLeaks configura uma quebra grave nesta relação de confiança". Conceda-se. A narrativa diplomática, resultado de uma acumulação milenar, foi, de um só golpe, desfeita. Que a perda preocupe os diplomatas é, mais do que razoável, sensato. Restará ao meu amigo diplomata a certeza de que o ofício acabará por descobrir antídoto e adaptação. Devo, contudo, acrescentar que considero esta contrariedade coisa pequena comparada à que explica o vendaval Wikileaks. Julian Assange é um Robin dos bosques dos tempos modernos: rouba segredos aos poderosos para os dar ao cidadão comum. A contrariedade que o criou tem nome, chama-se poder. Ou seja, desigualdade. Gosto quando o engenho subverte a ordem estabelecida e reescreve uma história velha como o mundo.
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Sobre o autor
Miguel Portas
Eurodeputado, dirigente do Bloco de Esquerda, jornalista
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