Quarta, 23 Fevereiro 2011 19:26
Miguel Portas desvenda-nos a Líbia tão em foco nestes dias através da narrativa de uma viagem pelo território, geografia, história, política, crenças, mitos e lendas dos povos do país. Um actualíssimo e oportuno excerto do livro "Périplo", com fotos de Camilo de Azevedo.
Texto: Miguel PortasFotos: Camilo de Azevedo
As pedras dispersas pela planície, cobertas de areia, representam soldados de baioneta e camponeses e camponesas com charruas e animais de tracção. Está, também, por ali, o rosto do conducatore. São pedaços do Arco do Triunfo inaugurado por Mussolini em terras líbias, em 1937. Nesse ano, o ditador ainda prometia aos italianos um novo império de mil anos em terras de África, digno do mais perene que o Mediterrâneo conhecera. Era um anacronismo, claro. Mussolini sabia que a unificação das tribos itálicas e das cidades helénicas e cartaginesas da grande península fora alheia a qualquer ideia ou sentimento “nacional”, tal como, contemporaneamente, o entendemos. Mas a política é matreira e o fascista decorava de glórias passadas o seu próprio futuro. Ele era a reincarnação dos Césares, na palavra e no gesto.
Pelo menos, herdara a anexação militar da Líbia, ocorrida 26 anos antes. Seguiu-se uma colonização coxa e atribulada, oferecida à pobreza siciliana como alternativa à emigração para os Estados Unidos da América. A Líbia não tinha o atractivo das fotografias que chegavam do Atlântico, com árvores de fruto repletas de moedas de oiro, mas transformava camponeses sem terra em proprietários. O rei Vittorio Emanuelle III garantira a cada família um pedaço de terra e, nesta, uma casa, um poço, maquinaria elementar e animais. Para quem nada tinha, representava um novo começo em terra virgem. Partiram 120 mil.
(Continua)
---------------------------------------------------------------------------------
Para continuares a ler este extraordinário excerto do livro "Périplo" e veres as fantásticas fotos nele inseridas, clica AQUI.
JOÃO
Sem comentários:
Enviar um comentário