segunda-feira, 30 de maio de 2011

Artigo de Marisa Matias: EM DEMOCRACIA NÃO HÁ IDEIAS NEM VOTOS INÚTEIS, HÁ OPÇÕES. FAÇAMO-LAS SEM AMARRAS E POR PURA CONVICÇÃO | Esquerda.Net

Aqui fica um artigo - que eu acho muito bom e muito importante -, de Marisa Matias, pessoa que eu muito admiro e respeito pelo seu extraordinário desempenho no Parlamento Europeu.
Mais comentários para quê?!
Marisa Matias é uma Eurodeputada de excelência do Bloco de Esquerda.
Não deixes de ler este artigo!
JOÃO

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Em democracia não há ideias nem votos inúteis, há opções. Façamo-las sem amarras e por pura convicção.
Em democracia não há ideias nem votos inúteis, há opções. Façamo-las sem amarras e por pura convicção.
Como sempre acontece a cada eleição, discute-se sem fim a utilidade do voto. Aparentemente, há uns votos que são mais úteis do que os outros e o papel de cada um e cada uma de nós é estar à altura dessa utilidade que nos é pedida.
Sempre tive muita dificuldade em perceber esta classificação. Primeiro, porque um voto numa eleição é um exercício de um direito, é a manifestação de uma vontade, é o fazer parte de um projecto colectivo, é um acto individual, é muitas coisas e, acima de tudo, é uma prática de cidadania. Por outro lado, se fosse apenas para ser útil, no mínimo deveria perguntar-se: útil para quem? Para quem vota? Para quem "recebe" o voto? Quando um pensionista pobre vota numa proposta para um governo que tem como medida uma redução ainda maior da sua pensão está a ser útil a quem? Quando uma funcionária do Estado vota num programa que lhe destina um corte no salário ou mesmo o despedimento está a ser útil a quem?
Nos termos em que é colocada a pressão do voto útil, quem menos conta é quem vota. Para além do sentido de responsabilidade individual em que, obviamente, se funda a democracia, é exigido aos eleitores um “sentido de utilidade” com uma definição prévia do que é o “voto aceitável”. É como dizer: faça o favor de sacrificar o seu direito a bem do “interesse comum” ou de uma alegada “estabilidade governativa”. Mas quem define esse interesse comum? E que benefícios temos tido desta suposta estabilidade que a cultura do voto útil tem promovido nas sucessivas eleições? O que nos propõem de diferente hoje os partidos que desde sempre apelaram ao voto útil e dele beneficiaram, PS e PSD? Atendendo ao estado actual da economia portuguesa, às crescentes desigualdades sociais, ao desemprego galopante, ao aumento da precariedade, ao desmantelamento do Estado social, e usando os mesmos termos, é fácil concluir quão inúteis têm sido os sucessivos votos de confiança nos defensores do voto útil.
Estreita visão da democracia esta, que em vez de promover a livre escolha dos cidadãos adopta a postura do “peso na consciência”, do “mexa-se, mas só um bocadinho” e do “cuidado com o que pode perder”. Uma visão que ainda por cima é perigosa porque reduz dramaticamente a escolha e a pluralidade democráticas.
Quando a maioria dos eleitores que irá exercer o seu direito de voto já pouco ou nada tem a perder, o mínimo que nos é devido é recusar esta chantagem. Em democracia não há ideias nem votos inúteis, há opções. Façamo-las sem amarras e por pura convicção.

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