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Têm sido assim os últimos meses, em Portugal, na Europa e no mundo. Quem pressentiria a tempestade, não de areia mas de liberdade, gerada nos desertos do Norte de África de onde sopra o familiar vento suão? E a onda não parou: apesar de o povo líbio estar encurralado entre os tanques de Kadhafi e os mísseis da NATO, ela expande-se até à Síria, Iémen e Arábia Saudita, governadas por reis e déspotas petrolíferos, todos “bons amigos do Ocidente”.
Recentes são as ondas sísmicas e o tsunami japonês que abalaram o mundo, sobretudo pela catástrofe nuclear de Fukushima, cujo alcance ninguém hoje consegue medir…
Também o velho continente foi abalado por tempestades de outro tipo, que já colheram a Islândia, a Grécia, Irlanda e agora nos batem à porta. Mas não vão ficar por aqui… Não se trata de catástrofes naturais, mas provocadas pela ganância financeira num mundo desgovernado pelo neoliberalismo. A bolha especulativa da economia de casino estava programada para rebentar, como alertavam há mais de uma década vários prémios Nobel da economia.
Desde finais de 2008, os Estados cuja intervenção nos mercados foi diabolizada ao longo de décadas, injectaram triliões para salvar bancos cujos activos estavam ao nível do lixo, apesar de receberem notas elevadas das agências de rating. As mesmas ratazanas e os mesmos bancos que, a partir de 2010, lançaram a gigantesca operação especulativa contra as dívidas soberanas dos Estados que os salvaram. Eis o capitalismo neoliberal em todo o seu esplendor!
Na política doméstica, desde as Presidenciais a vida política entrou em carrossel: há um mês esta crónica teria por título “A censura ou o pântano”, a propósito da moção apresentada pelo Bloco, em 10 de Março. Mas quem ainda se lembra disso? A 11 de Março foi anunciado o PEC 4, já chumbado pelo parlamento; dia 12 foi a manifestação das “gerações à rasca”; sobreveio a demissão do governo, a dissolução da Assembleia, as eleições marcadas para 5 de Junho…
QUE DIA É HOJE? Citando “FMI” de José Mário Branco, um clássico cada vez mais actual, “o FMI não aterrou na Portela, coisa nenhuma”… Mas a dura realidade é que eles aí estão! E, ao contrário do que nos querem fazer crer, nem todos perdem com a sua chegada: os bancos, por exemplo, já sonham com o seu quinhão de liquidez dos 80 mil milhões de euros a baixo juro para subirem as taxas que impõem à economia produtiva e a dezenas de milhares de cidadãos ameaçados de despejo por já não conseguirem pagar a prestação da casa.
A grande questão hoje é: quem ganha e quem perde com o FMI? Quem paga a dívida externa e a enorme dívida social aos trabalhadores e aos dois milhões abaixo do limiar da pobreza? A esta pergunta crucial, só há duas respostas: a do bloco FMI e a alternativa de esquerda.
O primeiro é formado por todos os partidos que aprovaram os PEC’s e, assim, estenderam a passadeira ao FMI. Neste bloco, a coerência não é moeda corrente: Cavaco, o padrinho, alertava nas presidenciais contra “os cortes cegos” do FMI. Passos Coelho recusou o PEC 4 no parlamento mas, com as orelhas a arder perante Merkel, jurou fidelidade a este e aos PEC que se seguirem. Sócrates, entronizado no Congresso como “o querido líder” do PS, jurava “fazer tudo para evitar a vinda do FMI”, hoje declara-se o mais competente para governar com ele. Em rodapé, o CDS de Paulo Portas a mendigar os lugarzinhos num governo bi ou tripartido…
Nas eleições de 5 de Junho, não vale a pena nenhum destes partidos apresentar programas nem gastarmos um segundo a ouvir as suas promessas: o programa comum de todos eles não foi redigido em Portugal e tem apenas três letras: FMI.
À esquerda, a boa notícia é o diálogo aberto entre o Bloco e o PCP que deverá estender-se a outros sectores e personalidades – ainda há socialistas no PS? Para construir um programa de governo alternativo, se os portugueses assim votarem, ou uma plataforma de resistência e luta nos duros tempos que virão. Para vencer agora e, sobretudo, para abrir caminhos de futuro.
Há alternativas em Portugal e na Europa, indiciadas no processo judicial contra as agências de rating, interposto pelo grupo de economistas encabeçado pelo professor José Reis. Não é caso inédito: a Islândia varreu do poder os políticos responsáveis pela crise, elegeu uma nova Constituinte e meteu os banqueiros corruptos na prisão. Mais ainda: recusa pagar a dívida aos bancos ingleses e aos agiotas que especulam sobre a dívida soberana.
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