quinta-feira, 6 de maio de 2010

Rui Tavares Sobre a Candidatura/Eleição de Manuel Alegre

Um muito bom artigo de Rui Tavares, Eurodeputado pelo BE, que pode ver no site de Manuel Alegre.

Opinião
Uma eleição de viragem?
05-05-2010 Rui Tavares, Público

Se Manuel Alegre conseguir impor-se contra a política da falta de imaginação e da falta de esperança, já terá ganho. Se esta for uma eleição de viragem, essa será uma vitória de todos.

Os otimistas falam em salvar a democracia. Os pessimistas dizem que ela já está perdida. Os saudosistas dizem que temos de a recuperar. Os idealistas dizem que temos de a reconstruir. Mas todos dizem, no fundo, a mesma coisa.

O que eles dizem é que a nossa crise é uma crise de democracia. E este será, quanto a mim, o tema das próximas eleições presidenciais. Tudo o resto é subordinado. Quando falamos de abuso de poder e de corrupção, é de democracia que falamos. Quando falamos de real partilha de sacrifícios, é de democracia que falamos. Quando falamos de investimento público, é de democracia que falamos. Quando falamos de desemprego e precariedade, é de falta de democracia que falamos. Quando falamos de dívida, de juros, de rating, do euro, etc. - falamos de democracia, ou desrespeito pela democracia, mas enfim, é sempre de democracia que falamos.

Neste ano em que a República cumpre cem anos, assistiremos a inúmeras tentativas para transformar as eleições presidenciais em eleições convencionais. Relatá-las de forma entediada, mesquinha, politiqueira.

Isso será, em si, uma derrota.

Pelo contrário, as próximas eleições são cruciais. A missão delas é enorme: simplesmente, mudar a forma como se faz política em Portugal.

Manuel Alegre apresentou ontem a sua candidatura. Também ele não é um candidato convencional - e essa é uma grande, uma enormíssima qualidade.

Na política, é fácil estar de dentro, tal como é fácil estar de fora. Estar de dentro é ir fazendo a sua carreirinha. Estar de fora é tranquilamente não se comprometer com nada.

O que é verdadeiramente difícil é estar na política não largando a vida fora da política. Quando se dá um passo independente, cortam-nos as pernas. Quando se trabalha em equipa, desconfiam das nossas intenções. Afinal, é apenas mais um político.

Manuel Alegre tem sido tudo menos "apenas mais um político". É suficientemente de dentro para não cair no populismo antipartido. É suficientemente de fora para não se deixar tomar pelo autoritarismo dos aparelhos partidários. Em ambos os casos, tem corrido riscos. À esquerda - onde tem havido um dos principais bloqueios na política portuguesa - soube correr esses riscos na tarefa tantas vezes ingrata de criar pontes. Por isso todos os políticos convencionais não lhe perdoam.

Nestas eleições estará em jogo a política-política, idealista, contra a política-politiqueira, mesquinha.

Um exemplo desta última é a novela do PS e da sua demora em apoiar Manuel Alegre. O PS não apoiará outro candidato; a única razão para a demora seria tentar garantir a derrota de Manuel Alegre. Faz sentido, porque os conselheiros desta opção são, aliás, dos maiores especialistas em derrotas eleitorais, nomeadamente em nome próprio. Queixam-se de que BE se aproximou de Alegre, e pretendem responder afastando o PS. Grandes estrategos.

A única estratégia possível é cortar com esta maneira de estar. Não há já nenhum português que tenha paciência para ela. Se Manuel Alegre conseguir impor-se contra a política da falta de imaginação e da falta de esperança, já terá ganho. Se esta for uma eleição de viragem, essa será uma vitória de todos.

Sem comentários:

Enviar um comentário