sábado, 15 de maio de 2010

A Santa Pequenez - do País e das mentalidades Papistas que temos...

O Papa foi-se embora e não deixa saudades!
Já vamos conseguindo pensar nos problemas do país:
- que fomos mais uma vez enganados pelo Governo!
- que Sócrates, ainda há dias, nos mentiu na AR...
Já só pensamos nas despesas... e no aperto do cinto!
JOÃO
A Santa Pequenez
14-Mai-2010
Numa altura em que foi acordado o agravamento do IVA e do IRS, a visita de Bento XVI conseguiu reter todas as atenções possíveis da opinião pública. Do microfone forrado a ouro, ao helicóptero da Força Aérea que foi remodelado para receber sua santidade, passando pelos recém-casados que resolveram passar pela Nunciatura e pela entrega da camisola do Benfica ao sumo pontífice, tudo foi alvo de notícia em horário nobre, contribuindo-se, assim, para uma sempre conveniente anestesia colectiva.

Focando-nos apenas no caso de Lisboa, um aparato de segurança (mas também cerimonial) impressionante rodeou toda a visita. Artérias centrais da cidade foram cortadas ao trânsito, linhas de metro interrompidas, polícia de 10 em 10 metros nos trajectos, piquetes com dezenas de motos e carros das forças de segurança a acompanhar as deslocações do papa, helicóptero da Força Aérea em cima do acontecimento. Uma operação de segurança nunca vista numa capital que curiosamente recebeu há bem pouco tempo atrás dezenas de chefes de Estado e de governo aquando da assinatura do Tratado de Lisboa e na Cimeira Europa-África. Esta nossa mania de fazer tudo à grande leva a estes conhecidos exageros. Um aparato que, pelo menos no caso de Lisboa, revelou-se não raras vezes totalmente despropositado tendo em conta o modesto número de fiéis que acompanhou grande parte dos trajectos do papa dentro da cidade...

Mas, para lá das razões de segurança, procurou-se justificar todo o aparato cerimonial com o argumento de sermos um país maioritariamente católico. Das recepções oficiais aos cortes de trânsito e escoltas policiais, das paradas às tolerâncias de ponto, todas as honras concedidas na recepção ao líder da Igreja Católica tiveram como base tal premissa. Até os avultados gastos em tempo de apertar o cinto foram assim justificados. O catolicismo é, indiscutivelmente a religião maioritária e hegemónica em Portugal. Não haja dúvidas a este respeito. Mas a dimensão do que se passou e a inexistência de vontade de o disfarçar levou a que a visita de Bento XVI se assemelhasse à recepção de um líder da religião oficial do Estado, e não à recepção de um líder de uma religião maioritária.

No fundo, assistiu-se a um impressionante papismo das autoridades portuguesas. Papismo enquanto expressão de devoção ao Vaticano de um Estado que se julgava laico, mas papismo também por todo o aparato ter se calhar excedido aquilo que o próprio papa acharia razoável. Não querendo entrar numa desvalorização absoluta de toda a visita papal (até porque tal seria cair numa espécie de papismo invertido), importa, no entanto, reconhecer que assistimos a uma série de momentos que foram uma explendorosa expressão da nossa pequenez. Uma santa pequenez, neste caso... Não se pede insensibilidade das autoridades perante a dimensão do catolicismo português. Bastava um pouco de bom senso.

João Ricardo Vasconcelos, activismodesofa.net

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