terça-feira, 8 de junho de 2010

Revisionismo Inaceitável da História | Crianças Vestem Fardas da Mocidade para Reviver 100 anos de República | Uma Afronta à Democracia!!!

Só agora li esta notícia no Público.pt e fiquei tão incomodada, que parece que sinto falta de ar. Estou furiosa e indignada! Apetece-me ir para a rua, agora, gritar!!!
Há dias recebi um e-mail com um "pps" que estava feito só com livros escolares, material escolar, utensílios vários do meu tempo de criança e adolescente. Fiquei assim como estou agora! Não reencaminhei e eliminei imediatamente.
Aqueles símbolos do fascismo, da Mocidade Portuguesa, do Salazarismo, do Portugal anti-democrático, tiraram-me o ar, em vez de eu ter ficado feliz por estar a reviver o meu passado feliz de criança. E porquê?! Porque o meu passado feliz de criança só foi compensado pelo maravilhoso pai que tive e pela sua maneira de me compensar os tempos da ditadura. Aqueles símbolos não me fizeram felizes, mas lembraram-me os tempos em que a escola me obrigava a ir ver o Salazar passar para gritar por ele, me obrigava a ir ver o corpo morto do padre da paróquia a que a escola pertencia, e as actividades e fardamentos da Mocidade Portuguesa Feminina, a que era obrigada a pertencer, contrariamente à vontade dos meus pais.
Agora, lendo esta notícia que me trouxe aqui, vejo que o país endoideceu ou o saudosismo está a colocar em causa a nossa democracia.
A prepotência do Primeiro-Ministro vai ao ponto de tolerar uma situação como a que vai ocorrer em Aveiro?! A Ministra da Educação não sabe o que se passa?! Como é possível que um Director de Agrupamento de Escolas, neste caso o director do agrupamento de escolas de Aveiro, o "lunático" Carlos Magalhães, tenha tido a ousadia de programar tal evento?!!!
Como podemos tolerar que as escolas públicas obriguem as crianças a encarnar personagens do salazarismo, da época da PIDE e dos presos políticos, da zona mais negra da nossa história pós República, quando as pessoas eram torturadas e mortas por discordarem politicamente da governação, onde não havia liberdade nem para escolher o grupo de amigos, nem a quantidade de pessoas que esse grupo poderia ter, pois se fossemos vistos em grupos de mais de três já éramos incomodados pela polícia… Um tempo em que as escolas não eram mistas, em que não podiam estar rapazes nas imediações das escolas, públicas ou privadas…?!
Imaginem, agora, como reagiria o Mundo se as escolas na Alemanha resolvessem recrear um evento semelhante, saudosista, com a juventude vestida com os fardamentos da juventude hitleriana…?!!!
Voltámos ao Estado Novo?! É para isto que pagamos impostos para que os nosso filhos e netos andem a brincar à “mocidadecinha” portuguesa salazarista?!!!
JOÃO

Aveiro
Crianças vestem-se com fardas da Mocidade para reviver 100 anos de República
07.06.2010 - 17:41 Por Lusa

Mais de 1200 crianças do agrupamento de escolas de Aveiro vão participar, quarta-feira, num projecto escolar destinado a reviver os últimos cem anos da história portuguesa, iniciativa já contestada pelo Bloco de Esquerda.

A iniciativa prevê a participação de um grupo de crianças vestidas com roupas a simular as fardas da Mocidade Portuguesa, o que para o deputado bloquista Pedro Soares, consiste num “revisionismo inaceitável da História”.

O parlamentar sustenta que o projecto contou com “a oposição de alguns pais”, o que é desmentido pela organização.

“Apenas um pai manifestou que não gostaria de ver a sua filha vestida com aquela indumentária”, disse hoje a responsável pelo projecto, Joaquina Moura, durante a conferência de imprensa de apresentação do evento.

A docente, que garante que a polémica está completamente ultrapassada, assegurou que “nada neste projecto leva para ideias de fascismo”, adiantando que “as coisas são trabalhadas nas escolas com dignidade e muito sentido de responsabilidade”.

Joaquina Moura lamenta ainda que, até hoje, o deputado em causa não tenha falado com os responsáveis pelo projecto e considera que “a escola foi ofendida e até os pais dos outros alunos que colaboraram nesta iniciativa”.

O director do agrupamento de escolas de Aveiro, Carlos Magalhães, revelou que houve um pedido de informação por parte da Assembleia da República e que “não foi levantado nenhum problema”.

Adiantou que “o assunto está esclarecido”.

No passado mês de Maio, o deputado do Bloco de Esquerda Pedro Soares apresentou um requerimento na AR a questionar o Ministério da Educação sobre se tinha conhecimento desta iniciativa que, segundo sustentou, “obriga alunos menores de idade a serem atores num ato laudatório e acrítico de uma página negra da história de Portugal".

O evento, que vai decorrer quarta-feira em várias praças e ruas da cidade de Aveiro, está integrado nas comemorações do centenário da República em Portugal e envolve mais de 1200 crianças de quatro jardins-de-infância e cinco escolas do 1.º Ciclo do município.

“Vamos proporcionar não só aos alunos como à própria cidade de Aveiro um belo momento de revisão da nossa história recente”, disse o director, explicando que esta iniciativa “permitirá fazer um percurso da evolução da vida em Portugal desde a monarquia até à actualidade”.

O evento vai decorrer entre as 14h e as 17h horas, culminando com a actuação da banda da GNR, e com o Hino Nacional entoado por todas as crianças, bem como uma largada de pombos, no jardim do Rossio.

O trânsito estará cortado no próprio dia, durante alguns períodos, nas zonas da cidade que vão acolher esta iniciativa.

6 comentários:

  1. Excelente texto de Daniel Oliveira sobre o assunto em título.
    Por favor leiam-no!
    JOÃO

    Lá vamos cantando e rindo
    Em Aveiro, crianças da escola pública vão, na véspera do dia de Portugal, vestir o traje da Mocidade Portuguesa. É reconfortante viver num País em que o desrespeito pela memória se aprende na escola.
    Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
    9:00 Terça-feira, 8 de Junho de 2010

    Num "belo momento de revisão da nossa história recente" (palavras do director do agrupamento de escolas), muitas crianças vão, amanhã, para comemorar os cem anos da República, vestir a farda da mocidade portuguesa e desfilar nas ruas de Aveiro. A professora responsável por esta bela ideia diz que "nada neste projecto leva para ideias de fascismo" . Nada. Tirando a farda, claro.

    Os petizes vão cantar o hino nacional assim trajados, sendo certo que não serão obrigados a levantar o bracinho. Uma pena que a "revisão da história" não seja completa. Que bonito seria a cidade que assistiu ao congresso da oposição democrática ouvir os seus rebentos a cantar "Lá vamos cantando e rindo/Levados levados sim /Pela voz do som tremendo /Das tubas, clamor sem fim". Coisa que, ainda assim, se acontecesse, desde que fosse "trabalhado nas escolas com dignidade e muito sentido de responsabilidade" , não teria problema algum.

    É natural que um País que deixa ao abandono o seu património e que despreza os direitos cívicos, trate mal a sua memória. É natural que um país que desrespeita os que lutaram pela liberdade - lembram-se da pensão oferecida a ex-pides mas recusada a Salgueiro Maia por aquele que veio a ser o nosso Presidente da República? - não leve a mal esta pornografia. Afinal de contas, nenhuma professora se fez fotografar nua na cidade de Aveiro.

    Os saudosistas da velha e boa escola podem finalmente sentir o sabor do antigamente. Este País ainda vai entrar nos eixos.

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  2. Ao estar a ler as indignações que por aí vão sobre o tema deste meu "post", encontrei num Blog "O país do Burro", por acaso, mais este magnífico comentário, que deixo.
    Leiam mesmo! Vale a pena!
    JOÃO

    Sehgunda-feira, 7 de Junho de 2010

    De pequenino se distorce o destino

    O mundo estremeceria se, a pretexto de comemorar a República, uma escola alemã decidisse organizar uma parada de 1200 crianças vestidas com a farda da juventude hitleriana. Estando nós em Portugal, uma escola pública organizar uma parada de 1200 crianças vestidas com a farda da mocidade portuguesa é, não apenas reviver o período de ouro da República, como a prova de que “as coisas são trabalhadas nas escolas com dignidade e muito sentido de responsabilidade”. E nada de ideias de fascismo. “A polémica está completamente ultrapassada”. Na cabeça de 1200 inocentes, tudo fica bastante claro. A Educação que todos nós pagamos é posta ao serviço do revisionismo mais primário. “Como vêem, meus lindos, o Estado Novo não era assim tão mau como o pintam. Não se divertiram à brava, queridos?”



    E apenas mais uma nota: uma vez que o todo-poderoso Senhor Director do Agrupamento (figura do salazarismo reintroduzida pela governação Sócrates para comemorar a sobrevivência de Maria de Lurdes Rodrigues à frente do ME) parece dos mais entusiasmados com a iniciativa, com toda a certeza que o prémio na avaliação de desempenho dos docentes mais empenhados na sua organização concorre com a penalização daqueles que eventualmente se atrevam a recusar participar na fantochada, se é que algum teve a dignidade de fazê-lo.

    por Filipe Tourais

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  3. Queriam o que? branquear a história? Já agora as crianças não se podem vestir de Cavaleiros ou Reis porque havia um enorme desrespeito pela vida humana. Já agora convém não esquecer o período dos Saneamentos e PREC que quase levaram o nosso país à bancarrota.
    Porque é que não põe um artigo a explicar como é que o vosso grande amigo Otelo Saraiva de Carvalho, um dos mentores das FP25, que vitimaram pessoas, e tinham como um dos objectivos "limpar" a classe empresarial é agora Coronel. Explique-me lá isso

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  4. Gostaria de demonstrar a minha solidariedade para com as 2 formas de pensar. Para mim realmente não faz sentido comemorar o estado novo, mas também não faz sentido comemorar o 25 de Abril, mas sim o 25 de Novembro onde a Democracia foi restaurada. Na minha opinião convertia-se o 25 de Abril noutro feriado, assim como foi e bem o Dia da Raça.

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  5. Ao primeiro Anónimo, nem respondo. Mas é a última vez que dixo ficar um comentário anónimo. Será apagado tudo o que for anónimo!

    Ao segundo Anónimo digo apenas isto: o 25 de Abril faz sempre sentido porque foi o dia da revolução que teve o seu maior estratega na figura de Otelo Saraiva de Carvalho, um grande homem, que fez uma revolução sem sangue e que poderia ter agido de outra forma, com toda a legitimidade, e não estaríamos, agora, com tantos gestores públicos a sugarem-nos o dinheiro que pertence a todos os portugueses.
    O 25 de Abril foi o dia da Liberdade e da democracia. O 25 de Novembro foi a continuação de muito do que se tem passado desde Abril/1974: umas coisas boass, outras más. Mas é assim em democracia.
    Se queres voltar a participar aqui, arranja um perfil.

    Vou deixar as regras do Blog e que são as boas práticas de uma convivência em sociedade, quer real, quer virtual. Este regulamento está afixado no Blog!

    JOÃO

    REGULAMENTO

    Artigo 1. O acesso e a colocação de mensagens e comentários são livres, mas não podem ser anónimos.
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  6. Fica mais um texto sobre o tema em título.
    JOÃO
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    QUEREM "LAVAR" A HISTÓRIA ...

    Este ano comemora-se o centenário da República portuguesa.

    Primeira pergunta: a república começou em 1910 e continuou, sem interrupção, até aos dias de hoje?

    Formalmente, sim!

    Mas, na prática, o regime do chamado "Estado Novo" prolongou a República ou interrompeu-a?

    Em Aveiro, terá lugar, amanhã, um desfile público onde, a propósito do centenário da República, desfilarão meninos "mascarados" com a farda da salazarista "Mocidade Portuguesa" ... será que faz algum sentido homenagear a República centenária com símbolos de um período de ditadura policial, autoritária e fascista?

    Quantos dos figurantes que incluirão o desfile sabem que a "Mocidade Portuguesa" é irmã gémea da polícia política, foi uma muleta, com a Legião Portuguesa, do fascismo salazarista ?

    A "Mocidade Portuguesa" não é só a exibição de uma farda!

    É claro que Salazar existiu. Não pode ser ignorado! É claro que a PIDE existiu. Não pode ser ignorada! É claro que a repressão existiu, sob multiplas formas. Não pode ser ignorada! É claro que a Mocidade Portuguesa existiu. Não pode ser ignorada!

    A grande questão, é que ao fim de 36 anos depois do 25 de Abril e do retomar do espírito republicano, cheira muito a lavagem ... e há um deficit imenso de preservação da memória que não esquece a repressão, as prisões políticas, a censura, ... , a par de uma informação muito retocada e arranjadinha sobre os anos do fascismo que também dava pelo nome de "Estado Novo" ...

    Publicada por Tribuna Socialista em 6/08/2010 02:29:00
    por João Pedro Freire

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