quarta-feira, 30 de junho de 2010

Blog do Bloco de Esquerda - Freguesia Charneca de Caparica - Intervenções do BE na Assembleia de Freguesia da Charneca

PELA CHARNECA DE CAPARICA!" - Eleições autárquicas 2009 - BLOCO DE ESQUERDA - Junta de Freguesia - Este blog foi criado para facilitar a aproximação dos Charnequenses com acesso à internet. Mas aqueles que não têm acesso à net não ficarão esquecidos... Numa iniciativa inédita a candidatura autárquica do BE à Assembleia de Freguesia colocou em "discussão pública" o seu programa de candidatura. Os CHARNEQUENSES PARTICIPARAM deste modo na elaboração do Programa Eleitoral. Neste espaço PRESTAREMOS CONTAS DE 2009-2013!

Este é o Blog do Bloco de Esquerda da Freguesia da Charneca de Caparica. No dia 20 de Junho o Blog publicou um post com o seguinte conteúdo:

"Pelas 21h15m do próximo dia 28 de Junho, realiza-se nas instalações da Junta a Sessão Ordinária da Assembleia de Freguesia da Charneca de Caparica com a seguinte Ordem de Trabalhos:
1- Período de intervenção dos cidadãos
2- Período antes da ordem do dia
3- Período da ordem do dia
3.1 - Apreciação, discussão e votação da 1ª Revisão ao Plano de Actividades e Orçamento para o ano de 2010
3.2 - Apreciação da informação do Presidente da Junta de Freguesia referente ao período de Março a Maio de 2010
Divulga e Participa!"

Eu fiz o favor de divulgar, no próprio dia, a realização da Sessão Ordinária num post "Sessão Ordinária da Assembleia de Freguesia da Charneca de Caparica | Hoje às 21h15 " que podem ver clicando AQUI:
 
Nesse dia apareceu um comentário no Blog da Charneca, em resposta ao "post" colocado pela deputada Filomena Silva. O comentário era este:
 
"Carmem disse...
Bom Dia.
Perdoem-me a intromissão, mas podem-me esclarecer o seguinte:
Se eu quiser saber qual tem sido a intervenção do BE na Assembleia de Freguesia da Charneca (por exemplo, que moções apresenta, que intervenções faz, qual a opinião sobre as Opções do Plano e Orçamento, etc.) onde posso consultar essa documentação?
É que, perdoem-me a crítica, mas pensava que iria encontrar aqui informação sobre esses assuntos e... nada! pelo menos na página principal ((embora possa estar em arquivo, admito-o, mas não sabendo a data é difícil dar com as coisas).
Por isso, sugeria que criassem um separador na coluna da direita onde fossem colocando essas matérias facilitando a sua consulta.
Segunda-feira, 28 Junho, 2010"
 
A resposta da deputada, criadora do Blog e gerente do mesmo, Filomena Silva, foi esta:
 
"Filomena Silva disse...
Carmem, caso se queira dar ao trabalho de consultar o site da Freguesia, deverá encontrar nas Actas da Assembleia de Freguesia todas as intervenções do BE (como as dos restantes partidos).
Entretanto, não deixo de agradecer a sua sugestão e prometo dar-lhe seguimento.
É claro que não o conseguirei fazer de um dia para o outro!
Filomena Silva
P.S.: É de notar que os escritos na página principal deste blog passam automaticamente para o arquivo mensal. Em consequência procurando no arquivo encontrará alguma, se não toda, da informação pretendida.
Segunda-feira, 28 Junho, 2010"

Como a resposta não estava politicamente correcta, eu fiz um comentário, logo de seguida, que, quase passadas 48 horas, não foi aprovado nem publicado. O meu comentário foi este e é verdadeiro:
 
"Cara Filomena,
 
Se a Filomena conhecesse minimamente o site da Junta de Freguesia da Charneca de Caparica, saberia que não há Actas de Assembleias,e o site não tem, sequer, as convocatórias para as mesmas. Até as actividades lúdicas da zona não vêm no site referenciadas. Vinham neste Blog quando eu fazia a sua gestão.
 
E acrescento que aqui, neste Blog, para além da informação sobre as datas das Assembleias, pouco se pode encontrar sobre a intervenção do BE.
 
Quando eu mantinha este Blog, podia colocar tudo menos essas intervenções se elas não chegassem até mim. E muitas vezes não chegavam ou não estavam completas.
 
Como sei tudo o que existe aqui neste Blog, posso garantir que há pouco sobre a intervenção da Filomena como deputada na Junta de Freguesia.
 
Havia, sim, muita informação sobre a camapanha autárquica 2009, os resultados das eleições e algumas notícias sobre a região.
 
Resta-me aproveitar para dizer que eu deixei de querer participar na gestão deste Blog por divergências sobre as presidenciais.
 
Mas, enquanto estiver inscrita como membro, participarei nos comentários. É um direito que me assiste!
 
JOÃO"
E agora pergunto: Que é isto?! A Filomena Silva não pode dizer que não viu o comentário porque publicou hoje um "post".
 
Eu não merecia ser ignorada porque, além de ser militante do Bloco de Esquerda, fui sempre correcta com a Filomena e trabalhei para o seu Blog meses a fio, dando tudo de mim: a minha dedicação, fidelidade, compreensão... Muito doente, nunca deixei de pesquisar e fazer o Blog estar activo, sempre! Mesmo nos momentos mais difíceis, entre internamentos hospitalares de um dia, por causa da minha frágil saúde, acima de tudo estava o Bloco de Esquerda, a Filomena e a Charneca de Caparica.
 
Chegou a altura de eu não poder suportar a forma como estava a ser o desnorte ao apoio a um candidato presidencial que, como é do conhecimento público, por parte do Bloco de Esquerda é ao Manuel Alegre, que por acaso até é o meu candidato pessoal. E se não fosse, no Blog da Charneca a candidatura presidencial seria, sempre, de apoio a Manuel Alegre, por o Blog ser de uma candidatura do Bloco de Esquerda. Cheguei a ser proibida de lá colocar matérias sobre o candidato Manuel Alegre. Apesar disso eu coloquei. Claro que tive, depois, tratamento de silêncio, porque, depois, me foi sendo difícil voltar a ter uma conversa via telefone sobre o Blog.

Não havendo já reuniões, nem conversas telefónicas e, as escritas sendo de prepotência por parte da Filomena Silva, eu saí da gestão do Blog - eu mesma apaguei os dados que me permitiam ser - mas depois de avisar que sairia dessa tarefa ingrata.
 
Tenho a prova da conversa escrita e, por isso, não admito mentiras sobre o que aconteceu.
 
Eu tinha ideias para o Blog: como fazer páginas individuais, uma lista externa, tipo Índice, como fiz no meu Blog, com as etiquetas, para que as pessoas pudessem facilmente localizar as mensagens... Mas não tinha oportunidade de falar sobre todas as minhas ideias para melhorar o Blog porquanto, como já disse, a partir de certa altura, nem pelo telefone eu conseguia sequer um minuto de conversa, como fazia anteriormente, que eu propunha as questões/sugestões para o Blog e elas eram explicadas e conversadas...
 
No entanto, eu já tinha etiquetado todos os "posts" colocados por mim e colocados pela Filomena. Estava no processo de fazer o Índice externo, caso ela desse o seu aval.
 
Como eu, mesmo sendo Charnequenses, e estando identificada, não posso comentar pois os meus comentários não entram, então eu vou sair de membro do Blog da Charneca não mais participarei nele, nem nessa qualidade.
 
É pena! Mas a Filomena escolheu quem não a ajuda, nem a quer ou pode ajudar. E, ao me ignorar, ao ignorar as promessas que fez aos Charnequenses, não me merece a credibilidade que eu, em temos, lhe dei.
 
Fez campanha, vai às sessões, mas não informa, como prometeu, os que no Bloco de Esquerda e nela votaram. Eu própria, para colocar o que está sobre as sessões ordinárias, era preciso pedir-lhe, vezes sem conta, o material.
 
Nós, Bloquistas e Charnequenses temos os nossos direitos!
 
E, para terminar, o site da Junta de Freguesia é uma anedota que só tem a composição certa do executivo autárquico porque eu impus, ao Presidente, que alterasse os dados no site e dei-lhe um prazo para o fazer. A Filomena sabe bem que nem o Bloco de Esquerda figurava no site, nem a foto dela, nem o seu nome. E esteve assim até eu fazer algo para que a situação fosse alterada.
 
Se eu não vou às Sessões Ordinárias da Junta de Freguesia é porque não consigo suportar a prepotência do colectivo eleito pelo PS, já que vi como eles actuaram no dia da tomada de posse dos órgãos autárquicos! A minha vida está em primeiro lugar!
 
JOÃO

Newsletter Nº 24 de 2010 - Bloco de Esquerda

Newsletter Nº 24 de 2010 - Bloco de Esquerda

 

Liberdade 2010 – Acampamento de jovens

 

 

 

 

Liberdade 2010Já estão disponíveis as inscrições para o Liberdade 2010, o acampamento de jovens do Bloco de Esquerda que se realizará de 21 a 25 de Julho, no Bioparque - Carvalhais, São Pedro do Sul.

Ler mais...

 

Adiamento das portagens "é trapalhada do governo"

 

 

 

 

Sinal de perigoO anúncio do adiamento para agosto do pagamento de portagens nas SCUT apenas serve para o governo "tentar ganhar tempo" para um acordo com o PSD, diz o deputado bloquista Pedro Soares. Ler mais

 

Jornal Esquerda - edição Julho 2010

 

 

 

 

Leia aqui o jornal A edição de Julho do jornal Esquerda já está disponível online. Inclui artigos sobre os cortes no financiamento da cultura, a reunião do G20 em Toronto, a violência policial em Lisboa e a crise do liberalismo oligárquico português que levou à implantação da República em 1910, entre muitos outros artigos. Lê aqui o pdf.



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Bloco levou precariedade ao roteiro da Juventude de Cavaco Silva

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Bloco/Madeira promoveu audição pública sobre Comunicação Social

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Bloco quer fim do "saltitar entre o interesse público e o privado"

 

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Deputada exige tratamento da poluição na Bacia do Ave

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Parlamento Europeu discute relatório sobre despedimentos colectivos

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Ana Drago contesta investimento em escolas que vão encerrar por terem menos de 21 alunos

 

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AM Valongo: Bloco aprova moção contra o atraso na realização das obras na EB 2,3

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AM Tavira aprova moção contra mega-agrupamento de escolas

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Bloco/Açores quer reabilitar praia de Monte Verde, na Ribeira Grande

 

 

 




terça-feira, 29 de junho de 2010

Artigo de Mário Tomé «José Saramago: Flor Agreste»

Vou deixar um artigo de Mário Tomé, sobre José Saramago.
O artigo saiu em "A Comuna" e é tão genial que dispensa qualquer outro comentário.
JOÃO

 José Saramago: flor agreste
28-Jun-2010

Escarro e Escarrilho aplicadamente de volta de Germano Vidigal, assalariado agrícola e comunista – também ele «erva daninha em campo de trigo» como o Oservattore Romano classifica José Saramago no obituário que o Vaticano mandou escrever. Destroçando com método, apesar da desvairada bestialidade, o corpo, que tinham ao dispor que não a alma, resistiu e resistiria até que o cansaço se apoderou deles e, certos de que, inerme e obstinado, já não lhe arrancariam uma palavra, o «suicidaram» com um arame à volta do pescoço preso a um ferrugento prego pregado na parede, Germano de joelhos pelo esgotamento do corpo que não perante eles, o Escarro e o Escarrilho.

Artigo de Mário Tomé

A total bestialidade não só fazia parte dos manuais da Gestapo, como havia de ser precursora dos procedimentos aplicados em Abu Grahib e Guantanamo e nas cadeias espalhadas por essa Europa unida que se abriram, hospitaleiras, aos inconfessados prisioneiros da CIA.

Nunca os latifundiários senhores da terra que no processo de “modernização” do fascismo iam, por cissiparidade, gerando os futuros patrões que haviam de dar nova dinâmica ao capitalismo, libertando-o das peias salazaristas e lançando as pedras daquele que havia de ser o PSD, assim que a revolta dos capitães e a fugaz revolução lhes deram asas - sempre de vampiro - pensaram vir a ter tão grande importância na defesa da civilização ocidental e cristã e na luta contra o terrorismo.

De facto eram eles, em última instância, quem assegurava a integração social daquelas bestas, dedicados torturadores, tantas vezes chamados ao dever sem empecilhos burocráticos por um telefonema ou simples recado mandado da herdade através de zeloso feitor .

O carreiro de formigas que ia e vinha pela sala onde Germano Vidigal estava a ser assassinado (a murro, pontapé, vergastada e paulada) com métodos que a Santa Inquisição dispensaria porque já no seu tempo usava ferramentas tecnologicamente mais avançadas, foi a única testemunha credível do que realmente se passou.

E como reza a pagina 176 de Levantado do Chão, de José Saramago, «Lavra grande indignação entre as formigas que assistiram a tudo, ora umas, ora outras, mas entretanto juntaram-se e juntaram o que viram, têm a verdade inteira, até a formiga maior, que foi a última a ver-lhe o rosto, em grande plano, como uma gigantesca paisagem, e é sabido que as paisagens morrem porque as matam, não porque se suicidem.».

A Igreja encontra um adversário à altura

«Já o adiantamento do ateísmo abstracto implicava um novo materialismo social que não era mais que o comunismo» Daniel Bensaïd

A obra de José Saramago foi apreciada por esse mundo fora e ele foi, talvez, o Prémio Nobel da Literatura que melhor soube aproveitar esse galardão tão ou mais político que literário, usando-o durante 12 anos numa luta intensa e pertinaz em defesa da humanidade dos seres humanos e da sua dignidade, combatendo o obscurantismo político, social e religioso.

A compaixão que atravessa a obra de Saramago, numa profunda empatia com todos os que sofrem, pondo acima de tudo o respeito pela dignidade humana, não é reconhecida pela Igreja porque não se queda pelo dossel metafísico que desconhece a revolta, antes se transforma, na literatura de Saramago e na sua acção como militante político - que o foi em toda amplitude - em urgência de agir e mudar radicalmente o mundo.

A mais que justificada hostilidade do Vaticano a Saramago decorre, não tanto do seu ateísmo militante, mas mais da sua sensibilidade «metafísica» (o Vaticano, erradamente, acusa-o de não ter consciência metafísica – tem-na e muito aguda, por isso a desmascara tão certeiramente).

Saramago usa a metafísica como metáfora da própria realidade para, indo ao encontro da ânsia de infinito ou de «nostalgia do absoluto» (Steiner) da humanidade alienada pela sociedade de classes (marxista!, acusa, e bem, o Vaticano), lhe dar, através da sua arte literária, instrumentos de racionalidade dialéctica.

A Igreja ao procurar o aggiornamento civilizacional para não permanecer colada às trevas do fim do mundo e à celebração da morte (sem a qual não existiria, como Saramago certeiramente acusa) atrapalha os mais inquietos teólogos que bem tentam dar a volta ao texto, estando agora na fase aguda de ver no ateísmo a prova da existência de Deus (enfim, um deus), de O descobrirem já em todo o lado menos onde o Cânone no-lo impõe há dois milénios, de saudarem o ateísmo como avatar de profunda religiosidade!

Em último e desesperado recurso, sabendo que os avanços sociais, culturais, civilizacionais, os avanços no respeito pela dignidade humana, os progressos na ética enquanto realidade histórica e não fixada num cânone, onde muitas vezes a Igreja está de fora, apenas foram possíveis com o progresso material e científico, vão sendo obrigados a admitir que a Bíblia poderá não ser mais que a continuação do canto de Guilgamesh ou da Odisseia, de uma história contada de geração em geração - quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, como diria Saramago - como bálsamo para os tristes sofredores e como alegria e garantia de poder dos tristes que se apoderaram dos rendimentos do vale de lágrimas.

(“O passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram umas às outras ao longo dos séculos...” - Fernando Braudel)

A fábula ininterrupta, cantada pelos aedos através dos milénios, reflectindo as angústias e anseios da humanidade, desagua na Bíblia onde é transformada numa dogmática obscurantista, na persistência primitiva da sua inspiração, incapaz de evoluir historicamente, o que é ao mesmo tempo a segurança do seu poder. O cinismo é, pois, a marca d'água do Vaticano.

A Humanidade no centro

A necessidade teológica de se ater ao Livro (a Bíblia) choca irremediavelmente com a necessidade de não perder o rebanho em cada época histórica, rebanho atraído, solicitado, obrigado pelo desenvolvimento material só possível em estado de pecado...

Na obra de Saramago, a metafísica como metáfora da realidade material desmonta a incongruência com uma eficácia que a desmontagem científica radical de um Richard Dawkins não alcança.

Fábula contra fábula, ganha Saramago. Pela qualidade da efabulação, pela originalidade e beleza literária, pela arte com que aprofunda os mitos e os leva ate às últimas consequências deixando-os, solitários, reduzidos à sua beleza literária, libertando a realidade humana em toda a sua magnífica e material complexidade capaz de admirar os próprios mitos com que a pretendem amarrar. Daí a compaixão saramaguiana pela tragédia da humanidade rendida ao mito transcendente salvador e a necessidade de, por isso mesmo, ser implacável na demolição das suas raizes. A literatura presta-se à fábula e assim deve ser, creio. Daí o supremo valor de Saramago neste plano.

São raros, se os houver, os escritores que terão a violenta lucidez de abalar tão fortemente o edifício mitológico onde habita e se esconde o poder secular da Igreja pois que, verdadeiramente espiritual não o tem. («Aquele, escuta-o e segue-o. É um verdadeiro mestre. Respondo, Não. Porque tal confiança é idólatra. É preciso que seja eu a dar a autoridade ao meu mestre» Jésus, Henry Barbusse)

Resta-lhe a idolatria e o culto do mistério como resposta mágica e sobrenatural, que tem conseguido dissolver lucidez potencial da humanidade, submetendo-a à irracionalidade.

Até escritores assumidamente ateus raramente se esquecem de referir a Bíblia como inspiração, se não mesmo como referência, de contar as vezes que a leram com deleite, a mesma Bíblia (O Antigo Testamento mantém-se como literatura estruturante da crendice, apesar de Cristo – história ou mito - nela não se reconhecer - ver o estranhamente belo Jésus de Henry Barbusse.) que Saramago classifica como um manual de maus costumes tendo por inspiração a crueldade gratuita porque determinada pelo capricho arbitrário do Senhor.

A grande Obra de Saramago, afirmando-se e impondo-se como monumento da literatura universal, transcende-se ao rasgar a cortina do mistério, reduzindo os mitos à necessiadde dos humanos, deixando-os nus na sua intrínseca beleza e própria crueldade natural.

A obra de Saramago impõe a crítica positiva e racional que a própria Igreja não consegue já negar mas que persiste, obviamente, em contornar e manipular com uma triste e única segurança: mesmo que assim «fosse», antes de tudo vale o mistério indecifrável e é nisso que reside o seu valor e a sua verdade.

Tudo o que as civilizações humanas, mais titubeantes ou mais decididas, procuraram e procuram, desde Homero a todos os filósofos gregos e poetas romanos, à civilização da cibernética, o conhecimento e o saber, a Igreja nega e recusa mesmo quando obrigada a vergar-se ao pragmatismo social.

Isto vale para a ideologia religiosa como para a ideologia do capital. Saramago não hesitou nunca, por mais que isso lhe pudesse criar inimigos políticos, pessoais e institucionais. Também nisso é exemplo.

O Prémio Nobel permitiu a Saramago tornar-se o mais importante arauto dos direitos humanos, da luta pela liberdade e pela dignidade da pessoa humana, da libertação dos povos, da denúncia do terrorismo de Estado e da condenação do terrorismo fundamentalista, do questionamento da democracia inquestionável, provocador admirado e amado militante político global. Em defesa de Cuba bloqueada por fora até à contestação e ao divórcio da Cuba amordaçada por dentro, da esperança de Chiapas à dor e luta da Palestina, do esboço revolucionário na Venezuela à firmeza dos Sahauris, Saramago foi um incansável peregrino, mostrando ao mundo, através da sua própria projecção de escritor nobelizado, o que o mundo não deve tolerar.

Cavaco em contra-ciclo

O temor a Deus desencadeou aquilo a que hoje, perante a não comparência de Cavaco no funeral de Saramago, se tem chamado de «questões menores» que deveriam ser atiradas para trás das costas em momento tão solene. Cavaco pode ser bronco mas não é parvo: ele sabe que não são questões menores. São questões centrais que na altura o fizeram querido da Igreja e dos talibãs católicos que agora querem outro candidato.

Durante o seu consulado, em 1991, teve lugar um brutal e miserável acto censório, pela mão do subsecretário de Estado Sousa Lara, sob a tutela de Santana Lopes e o alto patrocínio do Primeiro Ministro Cavaco. «O Evangelho Segundo Jesus Cristo» foi impedido de concorrer a um prémio europeu. Razões, se alguma houvesse ou pudesse ser invocada, que não podia, Sousa Lara apresentou-as em plenário da AR: segundo Lara o livro feria os católicos e o catolicismo, religião maioritária em Portugal. Portanto, o Governo ao assumir a defesa, pressupõe-se, dessa maioria, tornava confessional o Estado português.

Este crime contra dois pilares fundamentais da democracia – a laicidade do Estado e a liberdade de expressão de que decorre directamente a ilegitimidade e a ilegalidade do julgamento que o governo de Cavaco fez do «Evangelho...» - crime sem castigo, porque Deus esteve de acordo, apenas teve a condená-lo o blá,blá,blá inconsequente das forças políticas da oposição.

Portanto, agora, Cavaco Silva em pré-campanha preferiu que fosse o seu lacaio da altura, Sousa Lara, a ser confrontado, como foi. E este, relapso, renitente e contumaz, assegurou que voltaria a fazer o mesmo, canalha reincidente.

Cavaco também achou que cairia mal na Hierarquia da Igreja vir ao funeral de um ateu impenitente, crítico sem arrependimento do milagre do mistério e que o Vaticano olharia com beatíssimo entusiasmo a sua atitude.

Mas Cavaco está em contraciclo, e a fronda que a direita mais direita dos católicos, com o apoio sibilino do Cardeal, desencadeou contra o promulgador (na sua luta contra a crise, não nos esqueçamos) do casamento homo, deixou-o descalço.

Confrontando, inesperadamente,aliás, a posição do próprio Vaticano, a Igreja portuguesa sensibilizou-se com a morte de Saramago e elogiou o «grande escritor». Cavaco ficou a nadar em seco...

É o velho «azar dos Cabrais», neste caso dos Cavacos.

A literatura como arte e combate

A escrita de Saramago, não tão sem vírgulas e pontos finais (para quê se isto nunca acaba?) é, assim, mais como um mar de palavras que nos atrai e intimida, onde vamos nadar com as nossas próprias braçadas, no ritmo que formos capazes.

Não no estilo, mas na intencionalidade aberta e militante da literatura, lembra Neruda e Cortazar o mestre reconhecido do romance sul-americano.

Eu, leitor, me confesso: parei a leitura dos romances de Saramago no Ensaio Sobre a Cegueira .. Pareceu-me, então, que terá escorregado um pouco na metafísica que tão bem usou como metáfora da realidade. Decerto erro meu.

Não fui capaz de ler os Cadernos de Lanzarote. Mas da Viagem a Portugal a O Ano de 1993 passando por outros seus escritos e poemas fui-o sempre acompanhando. Tenho todas as suas obras publicadas à espera de melhor apetite.

Os pedintes que o não sabem criticar, porque são incapazes de admirar algo que não seja beato ou banal, à sua própria imagem, esperneiam e blateram com um estilo muito próprio, o do rei na barriga, porque até votam em todas as eleições e a democracia é isso desde que não ponha em causa o verdadeiro Deus que, de facto, idolatram: os oligopólios, as transnacionais; a guerra como instrumento da democracia, a guerra como garantia da liberdade e da virtude, a que chamam o mercado «livre». Não nos esqueçamos que foi desta estirpe que sobressaíram as vozes mais cultas e eruditas exigindo a chacina dos communards em 1871.

O significado e poder da obra de Saramago estão patentes na polarização que, mesmo na hora da sua morte, conseguiu prolongar entre os que o têm como amigo e aqueles outros que temem a influência que continuará a espalhar pelo mundo.
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Observação:
Eu estou a fazer uma página dedicada a José Saramago que será a minha singela homenagem. Mas essa página ainda não está acabada. Pelo menos, o meu texto ainda está a meio.
Dessa página terás ligação com todas as mensagens, comentários, fotografias, vídeos e hiperligações existentes neste Blog.
Para veres a página, quando estiver acabada, clica AQUI.

Um Terço das Famílias Portuguesas têm Dificuldades | Famílias Sanduíche!

Segundo um estudo feito recentemente, há uma percentagem grande da população portuguesa que, tendo emprego, são pobre pois não conseguem pagar as contas, aviar os medicamentos, comprar os produtos essenciais para o dia-a-dia, comprar 1 livro, ir ao cinema... Enfim, subsistir com o mínimo de dignidade. Segundo um noticiário televisivo, as famílias pertencentes a essa camada populacional até já têm nome: Famílias Sanduíche! Isto por viverem completamente apertadas, ensanduichadas!

Fica um artigo que saiu no Esquerda.Net.

JOÃO
Um terço das famílias portuguesas têm dificuldades
Apesar de não serem classificados como "pobres" são muitos os vivem com dificuldades para pagar as contas.
Artigo | 28 Junho, 2010 - 11:13

No estudo, "Necessidades em Portugal: Tradição e Tendências emergentes”, apresentado nesta segunda-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, a associação TESE, sob coordenação científica do Centro de Estudos Territoriais do ISCTE (CET/ISCTE), revela como vivem as famílias portuguesas que estão “ligeiramente” acima do limiar de pobreza. Entre as principais conclusões o estudou afirma que um quinto dos inquiridos tem dificuldades no pagamento das contas da casa e que 12 por cento não tem dinheiro para comprar todos os medicamentos de que precisa.

Segundo Teresa Costa Pinto, uma das coordenadoras do estudo, muitas destas famílias “estão excluídas dos sistemas de protecção pública, mas estão em condições insuficientes para alimentar recursos de sobrevivência. Há uma dificuldade em gerir o quotidiano”. A investigadora afirma ainda que “há dados que a contrariam. Há mais educação, mais saúde, melhor habitação do que há algumas décadas”, mas destaca o facto de que existirem grupos de vulnerabilidade “que nem sequer são os dos tradicionais pobres”.

O estudo conclui ainda que 41,3 por cento dos portugueses com actividade profissional remunerada experimentam situações de precariedade laboral, e mais de 50 por cento consideram a sua remuneração injusta.

Diante destas condições a famílias continua a ser o grande ponto de apoio, segundo a investigadora do ISCTE, há um natural recentramento nas redes primárias (família e amigos) em contexto de risco, e um “assumir de uma postura individual”, “volto-me para mim e para os meus próximos em detrimento de uma estratégia mais colectiva”.

“Há uma racionalidade extrema na gestão do quotidiano, mas pouca mobilização colectiva no sentido de produzir reivindicações. A luta quotidiana é quase só travada pessoalmente”, conclui Teresa Costa Pinto.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Jorge Sampaio: O meu apoio a Manuel Alegre é Natural | PRESIDENCIAIS

"Que cada um faça desta campanha
um sinal de mudança e de renovação"

Vou deixar parte da entrevista que o ex-Presidente da República Jorge Sampaio deu ontem ao Diário de Notícias.
Fica, pois, o apoio de Jorge Sampaio, bem explícito, ao candidato presidencial Manuel Alegre.
JOÃO

Jorge Sampaio ao DN:
"O meu apoio a Manuel Alegre é natural"
27-06-2010 DN (excerto)
Jorge Sampaio declarou hoje em entrevista ao DN que “o meu apoio a Manuel Alegre é natural e outra coisa não seria de esperar pois pertencemos à mesma família política. Fizemos parte da mesma geração de oposição ao regime, trilhei com ele um caminho comum na defesa da consolidação da democracia portuguesa, designadamente no trabalho parlamentar e em vários desafios partidários. Partilhamos princípios e inquietações sobre o progresso e a dignidade do homem e compartimos semelhantes exigências por um mundo mais justo e solidário.”

Alegre anunciou cedo a sua candidatura ou o PS é que apoiou tarde?
A relatividade do tempo faz parte do caleidoscópio da vida.

A atitude de Mário Soares está de acordo com a estatura histórica?
Não costumo fazer esse tipo de juízos de valor.

O PS ficou sem Mário Soares após apoio dado a Alegre?
Não dei por nada.

A aprovação pelo Presidente do casamento gay será motivo para haver um segundo candidato à direita?
Constata-se que assim o pensam algumas pessoas.

A candidatura suprapartidária de Fernando Nobre tem viabilidade?
Os obstáculos a superar são consideráveis, mas que uma candidatura seja suprapartidária não significa que seja apolítica.

Cavaco Silva recandidata-se?
Por que não haveria de o fazer?

À luz dos mandatos, como analisa a crispação entre Sócrates e Cavaco?
Em primeiro lugar, a crispação a que se refere é uma dedução sua. Não sei se existe crispação, mas também não me parece que seja o elemento-chave. É óbvio que, como na vida em geral, em tempo de dificuldades é sempre mais difícil gerir emoções ou mesmo diferenças de pontos de vista, por isso a qualidade suprema a cultivar é, sem dúvida, a da paciência…A meu ver, no caso referido, o que importa é o entendimento institucional, que é indispensável num país em crise.

Crê que Cavaco Silva vai fazer no 2º mandato o mesmo que fez: demitir o governo?
A história nuca se reproduz, embora as reacções tendam a repetir-se. Dito isto, deixe-me fazer uma precisão: em termos constitucionais, o Governo não é politicamente responsável perante o Presidente. E este só pode demitir o Governo quando se trate de garantir o regular funcionamento das instituições. Em abono do rigor, lembro-lhe que eu não demiti o Governo: dissolvi a Assembleia, a qual inevitavelmente acarretaria, depois, a queda do Governo.

O que pensa do mandato de Cavaco?
Sobre o Presidente da República, eu tenho sempre a mesma atitude que tiveram para comigo. Respeito o exercício de todos os presidentes, acho que é essencial à nossa democracia preservar o exercício do que foram as actividades exigentes de um presidente da República. Tenho até tido todo o apoio do Presidente nas minhas iniciativas e não tenho mais nada a comentar, porque também não comentaram sobre mim, com uma única excepção, em 2004.

Mas o Presidente fez um comentário à sua insatisfação com a qualidade da democracia…
Está no activo e pode partilhar o que quiser. Eu não posso partilhar ou despartilhar. Tenho essa regra.

Disse que “os portugueses devem relativizar a crise. Há países a sofrer mais.” Até quando os governos passam sem resolver o problema?
A solução dos problemas de um país não passa só pelo Governo mas também pelo conjunto das sociedades. A capacidade de gerar compromissos horizontais, constituir plataformas de entendimento e criar dinâmicas de concertação é indispensável para reformar. Mas é decisiva a capacidade política para reunir um leque vasto de apoios ou o ímpeto reformista chocará sempre contra os interesses particulares, que não conseguirá remover.

Sessão Ordinária da Assembleia de Freguesia da Charneca de Caparica | Hoje às 21h15

O Presidente da Assembleia de Freguesia da Charneca de Caparica convocou a Sessão Ordinária de Junho da Assembleia de Freguesia da Charneca de Caparica para hoje, dia 28 de Junho, pelas 21:15 horas, nas instalações da Junta de Freguesia, cujo ponto 1. da Ordem de Trabalhos é o “Período dedicado à População”.

Se és Charnequense e te interessas pela tua freguesia, participa!

JOÃO

PÚBLICO.PT | Cartoon do Bartoon | Portugal tem Futuro?!

Eu estou contente por Portugal estar nos oitavos-de-final do Mundial 2010.
Prefiro que os país compitam em jogos, do que em guerra! E eu até gosto de futebol, quando é bem jogado e não sou treinador(a) de bancada, como muitos, que criticam todos os seleccionadores e, quando Portugal perde, estes são umas bestas, quando Portugal ganha, estes são bestiais...
Os portugueses são assim: não são perfeitos, mas querem perfeição no seu futebol.
Para mim já é um feito termos chegado tão longe, não termos sofrido golos e termos empatado a zeros com o Brasil.
Confesso que estou ansiosa por amanhã. Claro que quero que Portugal ganhe à Espanha! Mas sei que será um jogo difícil, que espero ver e torcer por Portugal. Mas se Portugal perder, não vou arrasar com a equipa, nem com o seleccionador.
Oxalá o jogo seja bonito e que não acontece a "guerra" da polícia contra a população que festeja, em Portugal, como no Brasil-Portugal. Foi uma vergonha! Fico indignada ao ver a Polícia a dar bastonadas em pessoas que estavam a seguir o seu caminho, sem fazerem mal algum. E não é aos tiros, mesmo que sejam balas de borracha,  e à bastonada que se educa uma população que festeja e parte umas garrafas...
Entretanto, vamos sorrir com o Cartoon do Bartoon! E com a frase de "O Inimigo Público"!
JOÃO
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 PUBLICO.PT - Bartoon - 28-Junho-2010
Clica na imagem 2 vezes para a aumentares!
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Portugueses querem defrontar os nossos “pais” alemães
se eliminarmos os “nuestros hermanos” espanhóis.
Vítor Elias

Violante Saramago Matos | Mandatária de Manuel Alegre | Diário de Notícias.pt | 26 Junho 2010

Violante Saramago Matos,  Bióloga, nasceu em 1947, exactamente no mesmo ano em que eu nasci e que o seu pai, o escritor José Saramago, publicou o seu primeiro livro.
É a mandatária da candidatura de Manuel Alegre na Madeira.
É uma mulher extraordináriamente inteligente e politicamente interventiva,tendo sido já militante do Bloco de Esquerda. Mas preza muito a sua liberdade individual e não se sente bem "amarrada" a um partido político. No entanto, é civicamente muito activa na Madeira, onde vive.

JOÃO
Sábado, 26 de Junho de 2010
Entrevista a Violante Saramago Matos
Cavaco "não liga puto à Assembleia"
Élvio Passos com Nicolau Fernandes - TSF
Esta entrevista foi gravada no dia 17 deste mês. Deveria ter sido publicada no sábado passado. Mas, devido à morte de José Saramago, foi decidido adiar a publicação para hoje. A parte que está na página 14, foi gravada ontem.

Começou no MRPP, passou pelo PS e foi dirigente do BE. Hoje não tem ligação partidária, porque quer pensar livremente. Recentemente aceitou o convite de Manuel Alegre para ser mandatária na Madeira, da sua candidatura à Presidência da República.

Ser mandatária é um regresso à vida política activa.
Talvez. Há a noção de que a vida política se resume à participação partidária. Eu acho que não.

Em Portugal a participação política quase que se esgota nos partidos.
Sim é verdade, o que não quer dizer que esteja correcto do ponto de vista da democracia. Há pessoas que não têm jeito para serem militantes. Eu já cheguei a essa conclusão.

Já foi militante do PS...
Não. Fui militante do MRPP, antes do 25 de Abril e até a uns anos depois. Depois trabalhei com o PS e fui militante do BE. Mas já cheguei à conclusão de que eu não sou uma mulher de partidos, no sentido de que cumpro e respeito escrupulosamente tudo o que a direcção partidária disser.

Sente-se presa?
Sinto-me amarrada. Parece que não me deixam pensar por mim. Será defeito, será qualidade?

A intervenção política fora dos partidos é possível na Madeira?
Tem de ser. A Madeira tem condicionalismos de grande impacto, na expressão das pessoas. Não é uma sociedade que estude de forma sistemática as coisas, que se empenhe...

Há uma demissão cívica?
Eu não sei se há. Penso que há mais uma omissão. Mas não é fácil ter opinião divergente na Madeira, sem ter umas costas quentes atrás. Ou através do poder, se aceita determinados meios termos, mas também não aceita muitos, e o caso do Sérgio Marques é absolutamente evidente de como o poder reage à primeira crítica dentro. Ora, fora, sem costas protegidas por um escudo partidário é pior, porque a gente está sozinho.

Neste contexto, porquê Manuel Alegre?
Pelo percurso, pelos princípios, por aquilo que o Manuel Alegre tem defendido para a sociedade, inclusivamente e, no caso concreto, para a função do Presidente da República - PR.
Há uma coisa onde o PR se pode distinguir de todos os outros. Ele tem de tomar posição em situações de emergência, além das ambientais, as que temos vindo a viver nos últimos anos.

Sociais?
Sociais. Ele tem a obrigação de fazer mais alguma coisa. O país não precisa de um PR que se lastime mas de um PR que tenha uma visão para o país, não em termos governativos, mas em termos de mobilização dos cidadãos. Ele tem é de conclamar os cidadãos à participação.

Isso é o grande erro de Cavaco e a grande virtude de Alegre?
É uma delas. Cavaco não apela à participação cívica. Manuel Alegre apela.

Alegre que não deixa de ser apoiado do pelo PS e pelo BE.
E provavelmente por milhares de cidadãos que não estão nem no PS nem no BE.

O facto de ser apoiado pelos dois partido pesou na sua decisão?
Não, não pesou.

Disse ao DIÁRIO que pediu um tempo para pensar. Porque foi a hesitação?
Não é uma hesitação propriamente dita. A gente tem de pensar nas coisas sérias que faz na vida.

Ponderou também essa questão das costas quentes?
Não, não, não, não... Essa definitivamente não. É uma questão de princípio.

Mas reflexão sobre o mandato de Cavaco Silva já a teria feito. Eu disse também que me desconforta uma falta de sentido de Estado do PR e acho que ele teve momentos graves de falta de sentido de Estado, como naquela trapalhada das escutas de Belém, ou ao ouvir o presidente da República Checa dizer que os portugueses se estão nas tintas para o défice, portuguesmente falando, e não dizer nada.

Terá querido ser politicamente correcto?
Eu não estou a dizer que a diplomacia deve ser feita, nem pode, e é por isso que eu não tenho jeito nenhum para diplomata, chamando as coisas exactamente pelo nome que elas têm. Agora, daí a deixar passar uma coisa destas vai uma distância enorme, como vai uma distância enorme, chegar à Região e aceitar a sede da ALM como primeiro órgão da autonomia e ter ali uma intervenção política ou aceitar a sede da ALM como o restaurante.

Acabou por receber os partidos no hotel.
No hotel!? Então o chefe de Estado que tem uma ALM, a que não liga puto, que nem sequer se digna a dirigir, a estar presente numa sessão solene, numa sessão, fosse o que fosse, e que apenas passa por lá para jantar?!

Há matérias aqui na Madeira que deveriam preocupar o PR?
Claro que sim. Eu só dei três exemplos.

Além desses, que falou. Um PR ouve os dislates que se têm dito aqui e tudo isto passa?
Não há aqui um sentido de Estado, de unidade de Estado? Então ouve-se dizer que o Estado não é unitário e não se diz nada?

Acredita que Alegre, nesse aspecto, conseguirá ser diferente dos anteriores presidentes da República?
Acredito sinceramente, porque tem um passado que me faz acreditar.

Mesmo assim, é difícil Alegre ganhar as eleições na RAM.
Há surpresas.

Acredita que vai haver?
Eu não acredito propriamente em milagres. Agora, se eu pensar no que se passou com o referendo sobre a IVG, esse sim foi uma surpresa. Na Madeira não ganhou, mas entre os dois referendos houve um acréscimo de 10% de votos 'sim', o que é muito significativo.
Na Madeira há um sector apático, mas há um sector descontente que não encontra onde votar e que não vota. Há terreno para um trabalho. Aqui está uma das razões que me levou a pedir 'dê-me um espacinho para pensar'. Que é para saber se, chegado ao fim disto tudo, eu não vou olhar para o espelho e dizer 'Violante, que mal que te portaste nisto tudo'.

Qual vai ser o principal alvo eleitoral na Região, os mais novos?
Naturalmente que a campanha tem de ser dirigida a sectores, mas deve ser ampla e não limitada a determinados sectores.
Já há uma programação? Já há algumas coisas pensadas, mas uma coisa que eu aprendi na política é que nunca se buzina antes das curvas. Só quando se está a curvar.

Mudando o eixo da conversa. Falando concretamente sobre o 20 de Fevereiro. Há aqui responsabilidades criminais, além das políticas?
Há aqui dois campos de intervenção e eu não pretendo substituir-me nem à PJ, nem ao MP, nem aos tribunais.
Pode lançar alertas. É o que eu tenho feito. Agora responsabilidades políticas não sou só eu a dizer. O presidente do Governo diz que há muita coisa mal feita que tem de ser corrigida.

O ordenamento do território é o nosso calcanhar de Aquiles?
É o nosso como em quase todos os sítios. O solo urbano alimenta o poder. Paga e alimenta a câmara. O dinheiro vai para as autarquias, como, indirectamente, acaba por alimentar o poder acima das autarquias.
Nós temos de saber se queremos uma cidade que vai fazendo jeitos aqui e ali, ou que os vai permitindo, que vai obstruindo cursos de água, que vai tapando saídas naturais de água. Temos de ter um total respeito pela natureza. Deve haver um equilíbrio com a natureza.

No 20 de Fevereiro, a natureza veio dizer que esse equilíbrio não havia. Acha que se aprendeu a lição?
Não. Esta lição para ser aprendida, como qualquer matéria, tem de ser estudada.

Agiu-se demasiado rápido?
Não houve tempo para pensar. É por isso que as coisas estão a ser feitas quase em cima do que existiu. Por exemplo, com que base se está a fazer a quantidade de encanamentos que se estão a fazer ai pelas zonas médias superiores dos troços das ribeiras? Na base de quê. Não basta dizer esta casa não devia ter sido licenciada. É óbvio que não devia. Esta dentro do ribeiro.

Há erros que se estão a cometer. Houve tempo para pensar?
A recuperação da Madeira é uma coisa para se fazer a dois anos, que é para rebentar no próximo? Ou é uma coisa que é para se fazer a prazo, consolidado, bem estruturado para durar e garantir segurança?

Tem dúvidas de que voltará a acontecer uma coisa do género?
Eu tenho fortes receios. Todas aquelas imensas toneladas de detritos, que vieram pelas ribeiras, qual é o destino, o que é que se vai fazer disto? Vai se pôr na Avenida do Mar, na Ribeira Brava, no Lugar de Baixo? Tudo na foz, 'à bica' de o próximo temporal trazer tudo para terra com consequências imprevisíveis?

O aterro era para retirar.
Pois era. O que já é curioso é que, com o passar do tempo, o perfil do aterro vai se alterando. Aquelas terras, das duas umas: vão para ao fundo do porto, com custos e perigos em consequência do assoreamento, ou num próximo temporal a sério vêm para a Avenida do Mar. Isto não é futurologia, isto é dinâmica dos materiais, das ondas, da águas.

Solução para estes materiais?
Eu acho, por exemplo, que não havendo, como não há nenhum aterro, na Madeira, capaz de receber terras e detritos da construção civil, deve-se procurar reaproveitar. Se aproveitarmos pedra escusamos de abrir pedreiras. Mas há uma parte que não poderá ser utilizável. Uma das hipóteses é fazer um despejo controlado em alto mar. É uma medida ambientalmente sustentável, desde que seja acompanhada e seja bem feita. Não é chegar ao primeiro buraco e despejar.

E a criação de uma fajã artificial?
Eu tenho muita resistência às fajãs. As fajãs podem se fazer mas, têm de ser bem feitas. Não é aterros e vazadouros como se fizeram no Porto Novo...

Poderia ser como no aeroporto.
Isso é um aterro bem feito. É seguramente dos poucos aterros bem feitos que existem na Madeira, razão pela qual ele está lá e não mexe. Simplesmente ele foi construído desde a base, porque há regras para a construção do aterro. Não é ir chegando os camiões e despejar. Isso é um vazadouro, um despejo. Como há por quase todo o lado.

Sobre o seu futuro. Depois desta experiência como mandatária, admite a possibilidade de uma participação político-partidária, mesmo que não como militante?
Não sei. As coisas vão surgindo a seu tempo. Neste momento a minhas áreas de trabalho são o ordenamento do território e o trabalho que se avizinha, da candidatura.

Se fosse convidada a integrar uma candidatura à ALM e ficar responsável pelas questões do ordenamento, poderia deixar-se seduzir?
Talvez. Não sei. Nunca pensei nisso de um forma consistente.

Não exclui essa possibilidade.
Não excluo, nem incluo. É uma possibilidade como todas as outras. Em política a gente não deve dizer nunca. E eu já disse uma vez que, se alguma vez eu me inscrever no PSD, levam-me para o Trapiche rapidamente porque perdi o juízo, pela prática do PSD.
Agora há outras coisas que a gente tem de pensar, vamos ver. Há situações em que pode justificar, há outras em que não tem qualquer sentido.

Neste momento, sente-se mais próxima de que partido: BE ou PS?
Com toda a sinceridade, neste momento eu sinto-me mais próxima da minha cabeça.

Equidistância?
Não. O que eu faço, há já algum tempo, é uma avaliação relativamente a cada atitude, princípio, comportamento, declaração, decisão...

Alguém dos partidos a que esteve ligada, a procura, pede a sua opinião?
Às vezes. Não vou dizer quem, nem como, nem a propósito de quê, mas às vezes sim.
É uma forma de a valorizar. Eu acho que é sobretudo o reconhecimento de um trabalho sério que tem procurado ser profícuo.

Algum dos dois partidos já a tentou reconquistar?
Eu sou uma mulher difícil de reconquistar.

Não quer dizer que não tentem.
O problema é este. Uma mulher casada há 40 anos já não se deixa conquistar com grandes... É preciso muita coisa para conquistar, muito saber e ainda mais saber para não dar a resposta que o entrevistador quer. Não. Agora a sério. As coisas não se colocam em termos de conquista, mas em alguns pedidos de opinião. Mas isso é normal. Eu não morri para o mundo. Não houve uma intervenção que acabou e a partir daí não aconteceu nada. Tenho tido as mesma preocupações e o meu trabalho tem incidido sobre as mesmas áreas.

Presidente Forçado a promulgar casamento homossexual

Se aceder ao site do DIÁRIO ou ouvir a TSF, depois do noticiário das 9 horas, poderá conhecer o pensamento de Violante Matos, de forma mais desenvolvida, sobre os assuntos abordados na entrevista.

Poderá conhecer ainda alguns conteúdos que não integram a edição em papel.

A mandatária de Manuel Alegre explica por que razão não concorda com quem entende que a vitória de Cavaco Silva seja melhor para o Governo PS, do que a do candidato que apoia.

Diz também entender que Cavaco foi como que obrigado a promulgar a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pelo que, isso não pode ser entendido como uma abertura ao eleitorado de centro-esquerda.

ALM recusou louvor a Saramago em 1998

Qual é a melhor forma de perpetuar a memória de José Saramago?
Lendo-o, porque nos livros, nos escritos, nas entrevistas está tudo o que ele foi enquanto escritor, enquanto agente da palavra e da escrita e está o que ele foi e o que ele é, em certa medida, enquanto cidadão, pessoa, que pensa que disse o que entendeu, de forma como entendeu, clara, vertical e que nos obriga a pensar, mesmo que haja quem não está de acordo com ele. Penso que os seus trabalhos têm hoje a imensa virtude de nos obrigar a questionar, a perguntar.

Enquanto filha, sente quase o dever de divulgar a sua obra?
Não. Eu não tenho esse sentimento de dever.

Sente que Saramago é de todos, ao fim e ao cabo?
De todos, todos, será!? De alguns não é seguramente. Não sei. Não pensei nisso. O que me parece que é importante ontem é o que me parece que é importante hoje, a divulgação, a discussão e, sobretudo, procurar fazer o que sempre procurei: agir de acordo com a minha consciência, procurando que ele nunca tivesse vergonha da filha.

Falou dos livros. Há algum especial?
Há, o 'Ensaio Sobre a Cegueira'. É o meu livro de cabeceira. Não vou discutir, do ponto de vista literário se é ou não o melhor livro, até porque não sou especialista em literatura. Há coisas que gosto de ler, há coisas que não gosto. Gosto do Memorial, gostei imenso. Outro cujo conteúdo me suscitou um grande interesse foi 'A Caverna'. Digamos que o 'Ensaio Sobre Cegueira' concentra a escrita, mas também um tema de uma actualidade cada vez maior e um conjunto de figuras de que eu destaco, com impacto muito grande, o cão das lágrimas.

Como vê a ausência das duas principais figuras de Estado, Presidente da República e da Assembleia da República, nas cerimónias fúnebres?
Ambos de férias, ao que consta...

Como vê esta atitude do Estado que decreta luto nacional?
Eu acho que se um Estado decreta luto nacional, deve assumi-lo até às últimas consequências, ou então tem a coragem de não o decretar. Se me perguntam se estranhei a ausência do Presidente da República, eu devo dizer que Cavaco esteve igual a si próprio. Não era expectável que fosse. Surpreender-me-ia muito uma verticalidade de postura, relativamente a um prémio Nobel, de um país onde eles não são muito frequentes, a um cidadão português com o impacto mundial que o meu pai tinha, isso sim, surpreender-me-ia. Devo dizer que Cavaco esteve igual a si próprio.

Apesar do momento de sofrimento, notou o país envolvido?
Sim. E acho que é bom acabar com essa história de que Saramago fez as pazes com o país e o país fez as pazes com Saramago. O país e Saramago nunca estiveram de costas voltadas. Agora o Governo de Cavaco Silva sim, esteve, claramente e não se arrependeu, como se prova. Aliás o subsecretário de Estado, ao que parece fez declarações a comprovar isso mesmo. Aí sim, nada se alterou.

Na ALM, os partidos, alguns vão apresentar um voto de pesar, mesmo o PSD. Surpreende-a, tal como na AR?
Com a diferença, se não me engano, que na AR, houve há 12 anos uma congratulação pelo Nobel e aqui foi chumbada. E não gostaria de dizer mais nada.

Saramago ilhéu e homem do mundo

Violante Saramago Matos vai intervir activamente na Fundação Saramago, de que é curadora. A instituição tem dois tipos de objectivo, um de carácter cívico, em questões como os direitos humanos e o ambiente, e outro académico, ligado à literatura.

Violante Saramago Matos lembra que a obra de seu pai ainda tem muito por descobrir e que será, seguramente, alvo de muitos estudos.

A filha do Nobel admite que o pai pudesse ser um ilhéu: "Poderia ser no que os ilhéus têm de introvertidos, de metidos consigo. Mas talvez não fosse no que tinha de expressão de amigos e de preocupados, por todo o mundo. Nessa vertente que ultrapassa muito a insularidade do ilhéu."

Um homem que não poderia ser confinado a um território.