Capeia Arraiana é um new media on-line do Sabugal e do distrito da Guarda. Move-nos a paixão pela Raia, pelas terras do forcão, pelas serras da Estrela, da Malcata e das Mesas, pelo rio Côa e pelo povo valoroso que luta pelo futuro de uma região que alguns querem condenar ao fracasso. Defendemos as nossas tradições e trabalhamos para que a informação, a opinião e o debate de ideias estejam presentes no quotidiano dos que, como nós, amam as terras beirãs.
Esta crónica, tal como outras crónicas que já li do mesmo autor, está cheia de verdade e sabedoria!
É bom podermos aprender com os mais velhos porque há sempre lições que a vida ensina e que devemos aprender até morrer.
Esta abordagem à velhice é muito interessante e particular. E eu subscrevo tudo o que o autor escreveu sobre as "Etapas da Velhice".
JOÃO
As etapas da velhice
Segundo uma teoria antiga, a idade ordinária da vida humana pode dividir-se em escalões, de seis em seis anos, dando a cada um desses períodos uma designação.
Falando de velhice, estado em que eu me encontro há abundante tempo, diremos que o começo desse estádio da vida se inicia aos 57 anos.
Dos 57 aos 63 anos é a chamada «fase inicial da velhice». A mesma classificação mantemos no escalão seguinte, que vai dos 64 aos 70 anos, designando-o porém de «consolidação da velhice». No escalão dos 71 aos 77, falamos já em «decrepitude». Vem depois, dos 78 aos 84, a fase da «caducidade». A partir daqui, dos 85 aos 91, o ser humano está na «idade de favor». Dos 91 aos 98 está na «idade de maravilha». Finalmente, dos 99 aos 105 atinge na «idade de prodígio». A partir deste passo não há classificação, porque a pessoa já cá anda manifestamente a mais.
Da minha parte, com muito de vida vivida, encontro-me a iniciar a fase da caducidade. Neste estádio da vida pode o velhote, em certos e determinados casos, ser equiparado ao menino, ou até ao demente, se a razão já de todo não sobrevier, o que julgo não ser o meu caso.
Contudo, tirando essas ocorrências de diminuição de faculdades mentais, o geral dos anciãos deve ser considerado como gente com experiência de vida, portanto apta a prestar bom conselho. Uma vida longa observando o mundo e interpretando o comportamento humano, leva os velhos, mesmo na fase da caducidade e até na idade de favor, a oferecer alto préstimo à sociedade, proferindo conselhos filhos da experiência de vida.
Em muitas sociedades antigas prevalecia o conselho dos anciãos, ou o senado, formados por gente de prestígio e de abundante idade e experiência. Ao ímpeto e fogosidade da mocidade opõe-se a cautela e a lucidez da velhice, para que se forme uma boa e prestimosa sociedade.
Estamos porém num tempo em que ninguém olha ao saber da gente antiga. A prosápia das novas gerações levou a que os velhos fossem atirados para um canto, que a maior parte das vezes corresponde ao asilo ou auspicio a que solenemente chamam lar de idosos. Os velhos, que poderiam ainda estar a dar bons conselhos, são atirados para o depósito, onde voltam a ser tratados como garotos irresponsáveis, a quem de querem dar a mão para lhes ensinarem o caminho o tomar.
«Tornadoiro», crónica de Ventura Reis
Falando de velhice, estado em que eu me encontro há abundante tempo, diremos que o começo desse estádio da vida se inicia aos 57 anos.
Dos 57 aos 63 anos é a chamada «fase inicial da velhice». A mesma classificação mantemos no escalão seguinte, que vai dos 64 aos 70 anos, designando-o porém de «consolidação da velhice». No escalão dos 71 aos 77, falamos já em «decrepitude». Vem depois, dos 78 aos 84, a fase da «caducidade». A partir daqui, dos 85 aos 91, o ser humano está na «idade de favor». Dos 91 aos 98 está na «idade de maravilha». Finalmente, dos 99 aos 105 atinge na «idade de prodígio». A partir deste passo não há classificação, porque a pessoa já cá anda manifestamente a mais.
Da minha parte, com muito de vida vivida, encontro-me a iniciar a fase da caducidade. Neste estádio da vida pode o velhote, em certos e determinados casos, ser equiparado ao menino, ou até ao demente, se a razão já de todo não sobrevier, o que julgo não ser o meu caso.
Contudo, tirando essas ocorrências de diminuição de faculdades mentais, o geral dos anciãos deve ser considerado como gente com experiência de vida, portanto apta a prestar bom conselho. Uma vida longa observando o mundo e interpretando o comportamento humano, leva os velhos, mesmo na fase da caducidade e até na idade de favor, a oferecer alto préstimo à sociedade, proferindo conselhos filhos da experiência de vida.
Em muitas sociedades antigas prevalecia o conselho dos anciãos, ou o senado, formados por gente de prestígio e de abundante idade e experiência. Ao ímpeto e fogosidade da mocidade opõe-se a cautela e a lucidez da velhice, para que se forme uma boa e prestimosa sociedade.
Estamos porém num tempo em que ninguém olha ao saber da gente antiga. A prosápia das novas gerações levou a que os velhos fossem atirados para um canto, que a maior parte das vezes corresponde ao asilo ou auspicio a que solenemente chamam lar de idosos. Os velhos, que poderiam ainda estar a dar bons conselhos, são atirados para o depósito, onde voltam a ser tratados como garotos irresponsáveis, a quem de querem dar a mão para lhes ensinarem o caminho o tomar.
«Tornadoiro», crónica de Ventura Reis
Sem comentários:
Enviar um comentário