Numa sociedade cada vez mais injusta, menos humana, num Mundo cada vez mais desigual, este poema continua actual, a precisar ser lido e que se medite sobre ele, pois tem uma mensagem bem didáctica, quando todos sabemos que quem tem valor são os senhores do dinheiro e dos negócios protegidos, da especulação, da corrupção, das benesses dos governos, e não os seres comuns que tudo o que fazem é para engordar as contas bancárias desses senhores.
Uma sociedade que dá valor aos seus trabalhadores, uma sociedade que corta na cultura, é uma sociedade que não quer salvar o Mundo!
Temos que dar valor à cultura que ajuda a preencher a vida daqueles que, trabalhando, às vezes só têm um conforto: as ARTES! São elas que alimentam a alma e tornam possível aguentar as agruras da vida.
Com os cortes na cultura, o nosso mundo não é nem pode ser JUSTO!
JOÃO
Os Justos
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
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