Um beijinho
Margarida Antunes
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Poema aos Amigos - Jorge Luís Borges
Não posso dar-te soluções
Para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta
Para as tuas dúvidas ou temores,
Mas posso ouvir-te
E compartilhar contigo.
Não posso mudar
O teu passado nem o teu futuro.
Mas quando necessitares de mim
Estarei junto a ti.
Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão
Para que te sustentes e não caias.
As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus,
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.
Não julgo as decisões
Que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te,
A estimular-te
E a ajudar-te sem que me peças.
Não posso traçar-te limites
Dentro dos quais deves actuar,
Mas sim, oferecer-te o espaço
Necessário para cresceres.
Não posso evitar o teu sofrimento
Quando alguma mágoa
Te parte o coração,
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços
Para armá-los novamente.
Não posso decidir quem foste
Nem quem deverás ser,
Somente posso
Amar-te como és
E ser teu amigo.
Todos os dias, penso
Nos meus amigos e amigas,
Não estás acima,
Nem abaixo nem no meio,
Não encabeças
Nem concluís a lista.
Não és o número um
Nem o número final.
E tão pouco tenho
A pretensão de ser
O primeiro
O segundo
Ou o terceiro
Da tua lista.
Basta que me queiras como amigo
Dormir feliz.
Emanar vibrações de amor.
Saber que estamos aqui de passagem.
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades.
Escutar o coração.
Acreditar na vida.
Obrigado por seres meu amigo.
Jorge Luís Borges
Margarida,
ResponderEliminarObrigada pelo PPS que me tinhas enviado para o gmail. Era lindo! É lindo!!!
O poema é uma maravilha! Estou muito grata por o teres partilhado comigo, aqui também, para ser lido por mais pessoas que não o conheçam.
E a imagem que escolheste é absolutamente maravilhosa!
Hoje, depois de me teres enviado o PPS, eu procurei mais poemas deste autor argentino e coloquei este aqui, no Blog, «Os Justos».
Gostei muito dele quando andava à procura do «Poema aos Amigos».
Beijo grande
JOÃO
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Os Justos
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Argentino de ascendência portuguesa, mas que pouca gente conhece. Foi já cego que escreveu "A Cifra". Admirável como o ser humano consegue exceder-se na sua grandiosidade, quando perde o sentido da visão. Conhecemos alguns exemplos. E no entanto, cada um de nós, o que é perfeitamente admissível, apavora-se perante essa possibilidade. A grandiosidade do Homem, vem de dentro. Do que não está à vista!
ResponderEliminarUm beijinho