sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"CANTATA DE PAZ" - Vemos, ouvimos e lemos, Não podemos ignorar... Sophia de Mello Breyner

Hoje foi um dia politicamente especial em que muito se passou, desde a aprovação das alterações à Lei das Finanças Regionais - situação que levou à derrota do partido socialista, implicando numa derrota do Governo -, até ao caso das notícias vindas a público sobre o caso das "Escutas da Face Oculta".
A primeira, a aprovação da Lei das Finanças Regionais, deu-me uma alegria imensa, porquanto temos uma AR cheia de fibra e vigor que não se dobra a bluffs e chantagens do governo, numa clara vitória da democracia.
O segundo, o caso das "Escutas da Face Oculta", pelo contrário, encheu-me de tristeza por ver que este caso já não é uma caso de tribunais, mas sim um caso político em que um Inquérito Parlamentar já deveria ter sido instaurado, pois está em causa a liberdade de expressão da comunicação social e de todos nós.
Os portugueses não se indignam! E eu não consigo pensar que o nosso povo continua, na sua maioria, amorfo e com tendência a ser composto por pessoas que se consideram cidadãos de terceira, sem direitos e obrigados a aceitar tudo, humildemente, sem reclamar ou exigir: BASTA!
E é disso que se trata: dizermos BASTA!!!
De repente, estava a sair da cozinha e ouvi esta citação "Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar" e lembrei-me deste poema que é da Sophia de Mello Breyner e que toda a gente deve conhecer pois deu origem a uma canção de intervenção, "Cantata de Paz", com música e voz de Francisco Fanhais. E Pensei: Caramba! Que povo somos nós que nos deixamos enganar, ludibriar e espezinhar!?
Eu não sou assim. Nunca fui! Desde criança! Puxa, porque não podem todos ser como eu? Não chegou tantos anos de escravização?! Humilhação?! Boca calada?! Censura?!
Vamos lá todos dizer: BASTA!
JOÃO

CANTATA DE PAZ
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
Sophia de Mello Breyner Andresen

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